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A história do Bob’s, o primeiro fast food Brasileiro

A primeira rede de fast food criada no Brasil ironicamente (ou não) foi fundada por um americano. Ele se chamava Bob Falkenburg e é uma lenda do esporte. Bicampeão de Wimbledon, fez riqueza em um país um tanto quanto inesperado.

A primeira rede de fast food criada no Brasil ironicamente (ou não) foi fundada por um americano. Ele se chamava Bob Falkenburg e é uma lenda do esporte. Bicampeão de Wimbledon, fez riqueza em um país um tanto quanto inesperado. Para a sorte dos brasileiros, foi aqui que Bob inovou. Inovou em trazer um dos produtos mais consumidos dos tempos atuais, o hambúrguer.  Também foi ele o criador do Ovomaltine do Bob’s, um produto que acabou conquistando o país e que recentemente teve que se adaptar após um grande conflito.

Do seu fundador até os tempos atuais, o Bob’s sempre buscou na inovação uma forma de conquistar o mercado e nos últimos tempos enfrentar multinacionais como o McDonald’s e Burguer King. Em um mercado cada vez mais competitivo, a rede brasileira se destaca e busca novos formatos para atingir mais clientes. O Bob’s é a primeira rede de fast food brasileira. A empresa atualmente possui mais de 1000 lojas no país e em 2022 faturou R$ 1,3 bilhão.

A sua longa história de mais de 70 anos é digna de um filme de Hollywood. O Bob’s foi fundado por um norte americano, mas até aí, nada de muito curioso. O fundador, que se chamava Robert Falkenburg, ou só Bob mesmo,  era um verdadeiro astro do tênis. Bob foi bicampeão do tradicional torneio de tênis de Wimbledon. Ele fundou o Bob’s porque quando veio jogar em terras tupiniquins, foi atrás de um bom milk shake, mas não encontrou, então com ótimo faro para negócios, se mudou para o Brasil e abriu a empresa. 

E ele era um inovador, foi Bob que introduziu o hambúrguer no Brasil e ele também o criador de um clássico da empresa, o Milk Shake de Ovomaltine, que atualmente em uma conturbada história – que a gente vai te contar nesse vídeo, teve que mudar de nome. Desde então, o Bob’s teve vários donos mas seu ímpeto pela inovação nunca mudou. A empresa foi precursora no Brasil no sistema de franquias, uma inovação que fez a rede mudar de patamar. Seja Bem-vindo a história do Bob’s, a franquia brasileira que se atreveu a enfrentar os gigantes MC Donalds e Burguer King.

O Bob do Bob’s

Robert em sua época de Wimbledon

A inusitada história da primeira rede de fast food criada no Brasil começa de uma forma bastante peculiar. Robert Falkenburg, o fundador do Bob’s,  teve sua primeira conquista no Wimbledon em 1947 no torneio de duplas. Um ano depois, ele venceu o torneio individual. 

Mas a história dele com o Brasil iniciou um pouco antes desses grandes feitos, quando Bob veio a uma competição de tênis no Rio De Janeiro que- adivinhem – ele também acabou vencendo. Na cidade maravilhosa, procurou por um bom Milk Shake para tomar, mas não encontrou. Nessa situação, ele viu o potencial de um futuro negócio.

Bob ficou com essa ideia na cabeça, então em 1950, aos 24 anos, ele decidiu SE MUDAR de Los Angeles para o Rio de Janeiro. Um ano depois da sua chegada, abriu a Falkenburg Sorveteria Ltda, onde vendia apenas sorvetes de baunilha com uma fórmula própria criada por ele. Mas Bob encontrava sérias dificuldades para tocar o negócio, já que não encontrava os insumos e máquinas para realizar a operação. Era necessário importar máquinas e ingredientes dos Estados Unidos para produzir seus sorvetes.

Como Bob ficava na caixa registradora, tinha contato direto com o público o dia inteiro. E logo viu que havia demanda também para outros produtos que eram populares na sua terra natal. Então ampliou seu cardápio com sanduíches, cachorros-quentes, sundaes e uma grande novidade: os hambúrgueres que, segundo consta, foi Bob que introduziu no Brasil. Em 1952, já com a marca Bob´s, sua loja que ficava em Copacabana virou um sucesso.

Faixada da loja em Copacabana

Muitos iam ao Bob´s para conhecê-lo. Um dos frequentadores ilustres era o compositor Heitor Villa-Lobos. Inclusive alguns clientes muitas vezes iam para a linha de frente ajudá-lo a atender a multidão. Com o sucesso, em 1956, Bob abriu a segunda loja, em Ipanema, um dos bairros mais efervescentes do Rio. Depois, acabou abrindo outras lojas na cidade.

Pelas dificuldades que enfrentava, Bob resolveu fazer praticamente tudo dentro de casa. Instalou uma lavanderia para a lavagem dos uniformes dos funcionários e um depósito central que servia para distribuição dos seus produtos. Perto da Avenida Brasil, em Parada de Lucas, foi instalada também uma fábrica em um galpão para produzir copos e guardanapos. 

Além disso, montava máquinas de sorvetes e frigideiras. Esses produtos eram expostos em um show room e também eram vendidos direto ao público. A partir dessa estratégia de gestão vertical, estruturou novas pequenas fábricas para abastecer inicialmente cinco pontos de venda. Em 1959 surgiu um dos mais lendários produtos de toda a história do Bob’s,  quando Robert decidiu adicionar partículas crocantes de Ovomaltine ao Milk Shake, surgindo assim o Ovomaltine do Bob’s.

A Nestlé entra na jogada

Mesmo com grande sucesso, em 1972, Robert Falkenburg decidiu retornar aos Estados Unidos para se aposentar. Dois anos depois, vendeu o Bob’s que na época possuía 13 restaurantes para a Libby do Brasil, que em 1978, acabou sendo incorporada à Nestlé. Com a Nestlé à frente do negócio, novas opções no cardápio foram introduzidas. Foi nessa época que surgiu um pioneiro conceito de sanduíche-refeição no país, o famoso Big Bob. O crescimento do negócio fez a Nestlé construir uma nova fábrica, projetada com previsão de atender à maior demanda da rede.

Loja do Bob’s

Foi inaugurada em 1982 e tornou-se referência mundial em food service, por ter sido inovadora em técnicas de produção. Mas, se na época de Robert Falkenburg a rede adotou uma estratégia de gestão vertical, agora com a Nestlé o foco se concentrou apenas no negócio final do Bob’s, ou seja, passaram a produzir apenas os itens alimenticios que iam para o cardápio.

A empresa crescia, mas viu em uma nova inovação, o sistema de franquias, a oportunidade de acelerar esse crescimento. Então, em 1984, a primeira franquia brasileira de alimentação foi inaugurada com uma loja do Bob ‘s em Vitória, no Espírito Santo. A estratégia no futuro se demonstraria como um grande acerto. Mas ainda nos anos 80, a instabilidade econômica no país colocou o pé no freio no crescimento do Bob´s. 

A Nestlé, após sair do setor de restaurantes na Europa e nos Estados Unidos, decidiu vender também o Bob’s no Brasil.  A holandesa Vendex, na época um dos maiores impérios internacionais do varejo, em sociedade com a família Malzoni – proprietária de marcas como Sears e Ultralar – acabou comprando o Bob’s.  Uma das primeiras iniciativas dos novos donos da rede foi a ideia de atrair diversos executivos da concorrência, mas eles acabavam não se alinhando com o DNA da marca. Essa estratégia não deu certo.

Sede da Vendex na Holanda

Os novos administradores implementaram controles gerenciais, como auditorias internas, para melhorar os processos de produção. Mesmo ainda sob os efeitos da crise na economia, a Vendex promoveu a expansão das franquias em cidades como Salvador e Florianópolis. Além de ampliar sua rede de franquias, o Bob ‘s começou a operar em grandes eventos, como o Carnaval no Rio de Janeiro, na Fórmula 1 e no Rock in Rio, festival que a empresa participou desde a primeira edição, em 1985.

O Bob’s quase some do mapa

Mesmo com esses movimentos inovadores, o Bob’s tinha o futuro incerto. Suas dívidas com fornecedores não paravam de crescer, sua fábrica de produtos tinha altos custos e os consumidores, seduzidos pela chegada do McDonald’s, haviam sumido das lojas.  A rede estacionou em 78 unidades, das quais apenas 15 eram franqueadas, e o faturamento, estava cravado em 85 milhões de reais por ano. 

O Bob’s permaneceu sob controle dos holandeses da Vendex até 1996, quando a rede foi vendida para o grupo norte-americano Trinity American que depois passou a se chamar Brazil Fast Food Corporation ou apenas BFFC.  A nova direção transformou o Bob’s numa sociedade de capital aberto com ações oferecidas na Nasdaq, a bolsa eletrônica americana.

A BFFC, no fim de 1995, antes de concluir a compra da marca Bob´s, convidou  para a sociedade o empresário José Ricardo Bomeny, controlador da rede Bigburger, que na época era a terceira maior rede no segmento de hambúrgueres. A ideia fazia sentido: juntar a segunda maior marca, que na época era o Bob’s com a terceira, essa união daria o impulso necessário para a rede conquistar mais participação de mercadoBomeny aceitou entrar com participação acionária e a Bigburger ficou como o maior acionista individual, com 20% do total e com direito a participar do Conselho de Administração e da diretoria executiva. A rede então passou a ter as 78 lojas do Bob’s somadas a mais 45 da Rede Bigburguer.

A reinvenção da marca 

Quiosque do Bob’s Shakes

Mas era preciso injetar capital para expandir a rede e recuperar prestígio em um cenário de forte concorrência. Os gestores investiram fortemente em marketing e criaram um novo modelo de franquias com lojas menores, o que impulsionou a rede. Com todos os investimentos, apesar de crise na Ásia, em 1997, e na Rússia, em 1998, juros altíssimos, desvalorização cambial e pouca disponibilidade de crédito, o Bob´s passou por uma nova revolução. E surtiu efeito. Entre 1996 e 2002, a rede saltou de 78 para 242 lojas

A virada do século começou com a busca por estratégias que impulsionaram ainda mais a recuperação financeira do Bob´s. A solução encontrada para isso foi a montagem de uma nova composição acionária. Em 2002, as famílias Bomeny e Fonseca, respectivamente proprietárias do Grupo Bigburger e do Grupo Forza, adquiriram ações da BFFC, passando a controlar a empresa com cerca de 55% de seu capital. A partir dessa mudança, um novo executivo assumiu a sua direção, o administrador de empresas Ricardo Figueiredo Bomeny, que, no mesmo ano, se tornou CEO da BFFC e até hoje está à frente da rede.

Os acionistas aprovaram um novo aporte de capital no valor de 8 milhões de reais para liquidar as dívidas de curtíssimo prazo. Também venderam a fábrica que o Bob’s tinha para preparar os hambúrgueres, batatas fritas, sorvetes e refrescos de laranja consumidos nas lanchonetes. Para substituí-la, foram credenciados fornecedores para os produtos, que passaram a ser adquiridos diretamente pelas lojas.

Loja franquiada do Bob’s

Com a BFFC, a empresa acabou terceirizando boa parte da produção, tendo a Sadia como uma das suas principais fornecedoras de carne na época. Nos anos seguintes, o Bob’s se reestruturou e multiplicou franquias em todo o país. Além disso, iniciou seu processo de internacionalização com a inauguração de pontos de venda em Portugal, Angola e Chile. Nesses locais, as operações seguiram o mesmo formato e cardápio do Brasil, com algumas adaptações regionais para aproximação com o público local. 

Em 2008, a empresa implantou um plano estratégico com a meta de duplicar o faturamento em cinco anos. Em uma nova fase, a BFFC se posicionou como organização multimarca após assumir a operação da Pizza Hut em São Paulo e passam a representar as marcas KFC e Doggis no Brasil. Já o Bob’s apostava em diferentes tipos de lojas, com ofertas e tamanhos específicos para cada segmento e oportunidade de negócio, isto mostrou-se  um diferencial competitivo, fazendo a marca chegar no interior do país.

O resultado do ambicioso plano estratégico adotado em 2008 não poderia ser melhor: em três anos, o faturamento da rede cresceu 50%. Mas eles queriam mais, então o Bob’s planejou um forte avanço em São Paulo. A rede apostou em lojas em avenidas importantes e presença forte nos principais shoppings. Assim, chegaram em um novo grande resultado: saltaram de 41 pontos de venda na cidade em 2002 para quase 200, em 2011. 

Os novos gestores também decidiram cuidar da imagem da rede e das lojas. Para remeter a algo muito mais jovem e dinâmico, a marca foi reformulada. Foi adicionada a palavra “burgers”, para fixar o segmento de atuação da empresa assim a empresa estava pronta para crescer junto ao Brasil.

Crescer para sobreviver

O Brasil vivia no início dos anos 2010 seu período de maior salto econômico em duas décadas. São os tempos do Cristo Redentor decolando como um foguete na capa da The Economist. Em 2011, tendo já participado de todas as edições do Rock in Rio, feito que se repete até hoje, o Bob’s se torna a rede de Fast-food oficial do evento e bate o recorde mundial de venda de hambúrgueres em festivais de música: quase 80 mil em um dia. 

No ano seguinte, os números continuaram aquecidos e a empresa abriu o maior número de franquias de sua história em 12 meses: 142 PDVs. A década de 2010 foi o período em que a empresa mais cresceu em capilaridade, vendas e número de PDVs, superando a marca de mil unidades. O delivery do Bob’s ganhou agilidade com seu primeiro aplicativo para pedidos via celular. 

Em 2015, a BFFC, a controladora do Bob´s, resolveu fechar o capital da empresa. Na sequência, são criadas duas holdings, uma para tocar o negócio de franquias e outra para as lojas próprias. Tudo corria bem para o Bob’s até que em 2016 a empresa sofreu um duro golpe. Um dos seus produtos clássicos, o Ovomaltine do Bob’s teve que passar por uma reformulação em seu nome.

Anúncio do Bob’s sobre o milkshake de Ovomaltine do McDonald’s

O McDonald’s e a Ovomaltine, marca que pertence a Associated British Foods, fecharam uma parceria, criando assim o McShake Ovomaltine. A Ovomaltine era parceira do Bob´s desde o final da década de 50 e, desde 2005, mantinha contrato de exclusividade com o Bob’s no Brasil, contrato esse que acabou sendo passado para o Mc Donalds. Com isso, o clássico Ovomaltine do Bob’s passou a se chamar Crocante.

Bob’s x Multinacionais gigantes

Apesar dos desafios macroeconômicos, o Bob’s tem apresentado bons resultados nos últimos anos. Em 2021, muito em função da pandemia, o número de lojas diminuiu. Mesmo assim a empresa atingiu seu primeiro bilhão em faturamento.  Mas já em 2022, a rede voltou a ter mais de mil unidades e faturou R$1,3 bilhão. Para 2023 a expectativa é turbinar o número de lojas e faturamento, são planejadas 120 unidades novas, com investimento de 90 milhões de reais e se espera um faturamento de 1,5 bilhão de reais.

Hoje o Bob’s está presente em 250 municípios brasileiros. Mas o grupo planeja dobrar esse número até 2025. Apesar do crescimento do mercado de alimentação saudável nos últimos anos, as vendas de fast food vão muito bem no Brasil. No mundo das franquias, o fast food está no segmento de alimentação food service, que cresceu 11,2% no último ano em unidades.

Um dos seus principais concorrentes, a Arcos Dorados, franquia que opera a marca McDonald’s, informou que a empresa faturou cerca de 7 bilhões de reais em 2022, com 1084 restaurantes em funcionamento. Já o Burger King, terminou 2022 com 927 unidades. A Zamp, dona do BK e da Popeyes, registrou o maior faturamento anual de sua história, com receita acima de 3,6 bilhões de reais. O crescimento é de 32,4% em relação ao ano de 2021.

Para ter sucesso no embate com as poderosas multinacionais, o Bob’s aposta em cidades menores para impulsionar crescimento. A expectativa é atingir 500 municípios até 2025. A ideia é a rede estar presente em cidades com mais de 100 mil habitantes e a análise para se abrir uma franquia é feita por meio de um conjunto de fatores como renda, população e demanda.

Uma última curiosidade. O investimento inicial em uma franquia do Bob’s varia entre 900 mil e 1,5 milhão de reais. Já o investimento em um quiosque é de cerca de 300 mil reais. O Bob’s, assim como muitas outras empresas brasileiras de sucesso, soube se reinventar e passar pelos períodos econômicos conturbados do país. Desde a sua curiosa fundação, a empresa brasileira trouxe grandes inovações para o mercado. E por isso, a história do Bob’s é única no Brasil.

Se quiser assistir esse documentário no nosso canal do YouTube, segue o link:

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