Como Michael Bloomberg revolucionou o mercado financeiro

Entenda como Michael Bloomberg construiu uma das maiores empresas de tecnologia do mercado financeiro.

Em 1981 – antes mesmo da revolução dos computadores ou da internet – Michael Rubens Bloomberg criou uma rede de dados e comunicação que futuramente viria a ser o sistema nervoso central das finanças mundiais. Embora pareça extremamente audacioso, não é exagero falar que esse homem representa uma das maiores revoluções que conhecemos no Mercado Financeiro mundial.

E que seu sobrenome está tão incrustado em Wall Street, que ambos parecem se misturar em uma única coisa. Quem tem interesse em investir em ações ou acompanha o mundo de negócios provavelmente já ouviu falar dele com alguma frequência. Hoje, esse homem é dono de uma das maiores e mais rentáveis empresas de mídias da história e emprega cerca de 20 mil pessoas em 120 países.

Além, é claro, de possuir uma fortuna de, nada mais nada menos, que 94,5 bilhões de dólares. Mas o que chama a atenção nessa história é justamente como tudo isso começou. Um fatídico dia, na década de 1980, que ele foi demitido da empresa para a qual trabalhou e se dedicou por 15 longos anos de sua vida. Naquele que era, na época, um dos mais infames bancos de investimentos de Wall Street: o icônico Salomon Brothers.

Michael Rubens Bloomberg

Foto antiga de Mike Bloomberg

Nascido em Boston em 14 de fevereiro de 1942 – durante a devastadora segunda guerra mundial – Mike Bloomberg cresceu em uma casa de classe média em Medford, Massachusetts, e se formou na Medford High School. Seu pai, um imigrante polonês, era contador de uma pequena empresa de laticínios e sua mãe secretária. Depois de trabalhar em uma empresa de eletrônicos, ainda muito jovem, Mike se interessou por esse universo e escolheu estudar engenharia elétrica na Johns Hopkins University.

Para ajudar a pagar a faculdade, ele trabalhava em um estacionamento e precisou fazer alguns empréstimos com o governo. Ainda durante a faculdade, Mike se tornou chefe da família – quando de forma repentina seu pai acabou falecendo por insuficiência cardíaca. Depois de formado, em 1964, Bloomberg imediatamente se matriculou em um MBA na Harvard Business School – uma das mais prestigiadas escolas de negócios do mundo.

E em 1966, depois de formado, foi finalmente contratado para o seu primeiro grande emprego em um dos maiores bancos de investimentos da época: o Salomon Brothers. Ter um MBA em Harvard não é pouca coisa – especialmente para a década de 1960.  E por isso Mike acabou subindo rapidamente na hierarquia do Salomon, mas esse processo não foi nada fácil.

Salomon Brothers

Naquele tempo, mesmo a transação mais básica tinha que ser realizada manualmente. Para o banco fazer um empréstimo, por exemplo, alguém tinha que sentar e contar montanhas de títulos e certificados de ações como garantia. E por um bom tempo, o responsável por esse trabalho era Michael.  

Depois de passar praticamente o primeiro ano inteiro fazendo esse trabalho extremamente exaustivo e chato, Bloomberg foi finalmente promovido ao pregão. E se tornou o mais novo corretor da bolsa no Salomon. Fora do back office do banco, Michael finalmente tinha em suas mãos uma oportunidade real de se destacar, mas ele também estava certo de que a pressão em seus ombros iria aumentar. 

Como corretor, Mike se torna um membro da equipe de ‘block trade’ do Salomon.  Ou seja, ele passa a atender àquelas ofertas que têm uma quantidade expressiva de ações a serem negociadas. Bom, vamos entender um pouco melhor como esse universo funciona.

Foto de jornal falando sobre Block Traders

Imagine que você é um indivíduo com um patrimônio elevado e está interessado em comprar uma ação promissora na bolsa. Normalmente, uma pessoa normal compraria as ações no que chamamos de mercado aberto – onde todos têm acesso – e se você comprar uma ou dez ações não vai gerar nenhum grande impacto.

Mas agora imagine que você queira comprar 1 milhão de ações? Bem, nesse caso a sua própria oferta iria sobrecarregar o mercado e o preço do papel que você está interessado dispararia. Então, para esse tipo de cliente existem corretores especializados. Onde a negociação dos títulos é feita de forma privada – em mercados que são conhecidos como Dark Pools. 

As dark pools são mercados de negociação exclusiva para esses players, que permitem que investidores de peso negociem um número expressivo de ações sem exposição até que a negociação tenha sido executada e relatada. Ou seja, é uma maneira de proteger tanto a operação, como os investidores das consequências de uma exposição muito grande.

Bloomberg tornou-se o ‘Golden Boy’ do Salomon no mercado de ‘block trade’ e começou a se desenvolver ano após ano. Até que aos 31 anos de idade, após 9 anos de Salomon, ele finalmente conseguiu uma participação como sócio no banco. As coisas andavam muito bem e tudo indicava que Bloomberg teria uma carreira de sucesso. Mas a história é um pouco diferente.

Bloomberg a esquerda acompanhado de seus chefes

O Tombo Vira Vitória

Em 1981, em um dia como qualquer outro, depois de chegar às 7h da manhã para trabalhar, Michael é chamado por seus sócios para uma reunião de emergência A notícia que ele recebe é de que a empresa estava sendo vendida à Phibro Corporation – uma companhia especializada em commodities – e a nova administração não precisava mais de seu trabalho. Ou seja, Bloomberg estava sendo demitido!

Reportagem da revista Fortune sobre a venda

Nessa altura, ele já estava na empresa há 15 anos – e mesmo tendo trazido uma enorme fortuna ao banco com suas operações de ‘block trade’ – ele não era mais útil para a companhia. Mas é lógico que depois de tanto tempo, ele não sairia de mãos abanando, né? Mike levou pra casa uma indenização de 10 milhões de dólares. E é aí que vem a grande ideia..

Antes de ser demitido, Bloomberg se envolveu em uma guerra com os outros sócios do banco, e acabou perdendo a queda de braços.. Como resultado, ele foi tirado do setor de valores mobiliários e ações e passou a trabalhar no sistema de informação do Salomon Brothers. Embora destinado a essa função como uma espécie de punição, essa talvez tenha sido a experiência mais valiosa de toda sua vida.

Bloomberg começou a interagir e aprender sobre tecnologia, como os sistemas poderiam se tornar uma ferramenta poderosa para o mercado financeiro como um todo. Ele imediatamente reconheceu um problema proeminente enfrentado por toda Wall Street: a falta de dados precisos. A verdade é que, naquele momento, os dados circulavam de maneira praticamente arcaica e, muitas vezes, não eram confiáveis.

Ele logo pensou que deveria haver uma maneira melhor de atualizar os dados financeiros das companhias do que o Wall Street Journal. A indenização de 10 milhões de dólares seria o suficiente para financiar um projeto e ele criou, em 1982, a Innovative Market Systems, ou IMS – uma empresa de serviços de dados financeiros. Era o início de uma revolução.

Bloomberg LP

Logo de início, Mike contratou 24 funcionários para desenvolver o sistema e a empresa começou a trabalhar. Mas com o passar do tempo, o negócio começou a corroer a montanha de dinheiro de Bloomberg – ao ponto dele imaginar que mesmo 10 milhões de dólares não seriam o bastante. Mike começa a sentir a pressão do risco de verdadeiramente empreender – e depois de montar uma série de protótipos – decidiu fazer uma jogada ousada.

Sistema produzido por Bloomberg e sua empresa

Em uma reunião com o banco norte-americano Merril Lynch – na tentativa de conquistar seu primeiro cliente em potencial – Michael explicou o valor que o seu sistema poderia trazer para o banco. Apontando que o primeiro terminal bloomberg já seria capaz de trazer uma grande virada de jogo para qualquer companhia financeira. Sentado à sua frente, nessa mesma reunião, está Ed Moriarty – que naquele momento era chefe da divisão de Mercado de Capitais da Merrill Lynch.

Enquanto Michael era um homem só, defendendo sua inovação com o novo terminal,  Moriarty estava rodeado de um exército de advogados e executivos do banco – além de alguns programadores. No final da apresentação, Ed consulta a equipe e eles sugerem que o banco deveria desenvolver seu próprio sistema – mas que esse projeto poderia demorar. E é aí que Mike decide fazer uma proposta ousada. Ele prometeu que o modelo final do terminal iria ficar pronto em seis meses. E caso o banco não gostasse do resultado, não precisaria pagar por ele.

No final do período, em dezembro de 1982, mesmo ainda ocorrendo uma série de bugs com o software do terminal, o projeto é concluído a tempo de ser entregue ao Merrill Lynch – que decide assinar um contrato de 30 milhões de dólares com Mike para financiar ainda mais o projeto. Com os primeiros terminais vendidos, logo a tecnologia da Bloomberg começou a se espalhar por Wall Street e a empresa começou a evoluir.

Sistema de Bloomberg em uso

Em 1986, 4 anos depois do lançamento,, a MSI trocou de nome e virou Bloomberg LP. Na época, a Bloomberg já tinha aproximadamente 5 mil terminais espalhados pelos escritórios de seus clientes. Em 1991, já eram 10 mil terminais instalados nas mesas dos profissionais de finanças. Com os dados e relatórios elaborados pelo sistema, os gestores tinham armas poderosas para tomarem suas decisões.

Michael não vendia apenas um software como a Microsoft – em vez disso, ele foi pioneiro  do serviço de assinatura. Basicamente, os clientes tinham que pagar uma taxa anual para acessar o Terminal Bloomberg. Ele sabia que a partir do momento que um único banco de investimento tivesse acesso à informação disponível no Terminal – os outros bancos seriam forçados a também ter. Para competir com as mesmas condições.

Em 1996, Bloomberg recomprou 10% das ações que havia vendido ao Merrill Lynch. Nessa altura, a empresa já estava avaliada em 2 bilhões de dólares. Em 1998, os clientes pagavam 1500 dólares por mês para ter um dos clássicos terminais em cima de suas mesas. E isso fez a empresa crescer. Ao longo dos anos, produtos auxiliares, incluindo Bloomberg News – um canal de televisão a cabo – Bloomberg Radio, Bloomberg Message e Bloomberg Tradebook foram lançados.

Só a Bloomberg News, em 2010, contava com mais de 2300 editores e repórteres em 72 países. Também tinha 146 agências de notícias em todo o mundo. Em 2009, a Bloomberg comprou a revista BusinessWeek da McGraw Hill Financial e a renomeou como Bloomberg Businessweek. A BusinessWeek existe desde pouco antes do colapso do mercado de ações de 1929 e na década de 1970 já havia atingido a marca de 6 milhões de leitores. A Bloomberg surfou – e até foi responsável de certa forma – pela aceleração da globalização dos mercados.

Foto da BusinessWeek revista da empresa de Bloomberg

Escândalos

Mas com o sucesso, alguns escândalos envolvendo funcionários da companhia começaram a surgir. A cultura da empresa nas décadas de 1980 e 1990 chegou a ser comparada a de uma fraternidade, com funcionários se gabando no escritório da empresa de suas façanhas sexuais.  A empresa foi processada quatro vezes por funcionárias por assédio sexual, incluindo um incidente em que uma vítima alegou ter sido estuprada.

E mais do que isso. Para comemorar o quadragésimo aniversário de Bloomberg, foi publicado um panfleto intitulado “Portable Bloomberg: The Wit and Wisdom of Michael Bloomberg.” Escrito por Elizabeth Demars – diretora de marketing da Bloomberg na época – o documento continha uma série de frases atribuídas a Mike – que eram no mínimo contestáveis. Além disso, entre vários ditos que lhe foram atribuídos, alguns foram posteriormente colocados como sexistas e misóginos.

Foto de Elizabeth Demars

Embora nunca tenha sido declarado culpado no tribunal, os processos e o pequeno livreto deram muita dor de cabeça para Bloomberg – principalmente quando ele decidiu entrar para a política. 

Política

Em 2001, o então prefeito republicano de Nova York, Rudy Giuliani, ficou inelegível para a reeleição devido ao limite de dois mandatos consecutivos que existia na cidade. Bloomberg – que aparentemente estava um pouco entediado com a vida profissional – era membro vitalício do Partido Democrata, e decidiu concorrer a prefeito na chapa republicana. A principal razão para a escolha republicana, é de que a disputa interna dentro do Partido Democrata seria muito mais difícil para o bilionário.

Bloomberg acompanhado de Rudy Giuliani também democrata

A votação das primárias começou na manhã de 11 de setembro de 2001 – no exato dia do atentado às torres gêmeas e por esse motivo chegou a ser adiada. Nas eleições finais, Bloomberg derrotou o candidato democrata Mark Green.  Como prefeito, ele transformou o déficit orçamentário de US$ 6 bilhões da cidade em um superávit de US$ 3 bilhões, em grande parte aumentando os impostos sobre a propriedade.

Bloomberg aumentou o financiamento da cidade para o novo desenvolvimento de moradias populares por meio de um plano que criou e preservou cerca de 160 mil casas populares na cidade. Ele venceu a reeleição em 2005 e, embora legalmente não pudesse concorrer a um terceiro mandato, depois da crise de 2008, ele convenceu Nova York que eles precisavam de um empresário no comando.

Ele pressionou e derruba o limite de mandato para ser prefeito pela terceira vez. Mesmo tendo seus mandatos em períodos conturbados para a cidade, Bloomberg carrega prestígio em vários índices. Por exemplo, com Bloomberg à frente da prefeitura, o crime caiu quase 35% na cidade e a taxa de graduação do ensino médio nas escolas quase dobrou.

Mas desde 2013, ele estava se mantendo fora dos holofotes da política e voltou a comandar a companhia que leva seu nome. Até 2019, quando Michael concorreu oficialmente a presidente dos Estados Unidos – Mas ele tinha um único e claro objetivo. Derrotar Donald Trump.

Bloomberg e Donald Trump

Sucesso Mundial

Em 2018, a Bloomberg, LP alcançou uma receita de aproximadamente 10 bilhões de dólares. E em 2019, a empresa tinha mais de 325.000 assinantes de terminais em todo o mundo e empregava 20.000 pessoas em dezenas de locais. As últimas crises e a globalização intensa dos mercados, demonstram cada vez mais o poder que uma informação precisa e rápida pode ter.  E, é claro, que tudo isso serviu para encher o bolso de Bloomberg com bilhões e bilhões de dólares – o que dá a ele a atual marca de sétimo homem mais rico do mundo segundo a Forbes.

A maior parte da Bloomberg LP pertence a Michael Bloomberg desde que foi criada, e atualmente ele possui 88% das ações. Michael Bloomberg trabalhou duro em sua reputação. Divorciado desde 1993, ele pilota seu próprio helicóptero. Além disso, é conhecido por oferecer festas reluzentes em seu apartamento no Upper East Side. E é óbvio que além de desfrutar de luxos como aviões particulares, helicópteros, ele possui várias mansões espalhadas pelo mundo.

Reza a lenda que, nos anos 2000, ele deu uma festa de proporções épicas com o tema de ‘Os sete pecados capitais’ que custou 1,5 milhão de dólares e foi realizada em um prédio de escritórios abandonados. O cara também sabe aproveitar a vida. Nos últimos anos, Bloomberg tem se dedicado à filantropia e prometeu doar quase todo o seu dinheiro durante sua vida. Até agora ele doou 14,4 bilhões de dólares para uma ampla variedade de causas e organizações.

Entre erros e acertos, polêmicas e grandes discussões, o fato é que Michael Bloomberg é o exemplo vivo de que uma boa ideia e uma grande ambição podem de fato mudar o destino de qualquer um de nós.

Se quiser assistir esse documentário no nosso canal do YouTube, segue o link:

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