Suzano: a maior produtora de celulose do mundo

Conheça a história da maior empresa de celulose do mundo, fundada em 1924 por Leon Feffer.
Foto antiga da fábrica Suzano

Você sabia que o Brasil é o maior produtor e exportador de celulose do mundo? No ano passado, o setor gerou uma receita de 250 bilhões de reais e atingiu uma produção de 25 milhões de toneladas. Ao todo, o Brasil tem quase 10 milhões de hectares de áreas cultivadas, o que equivale auma área maior do que o Estado do Rio de Janeiro. E se o Brasil é o maior país produtor de celulose do mundo, a Suzano é a maior empresa produtora de celulose do planeta.

O que nem todo mundo sabe, porém, é que até meados dos anos 50, esse cenário era bem diferente. O Brasil precisava importar celulose para conseguir produzir papel, visto que não era auto suficiente e dependia de matéria-prima importada de países do hemisfério norte. Quem mudou esse panorama foi a Suzano, comandada pela família Feffer, que conduziu durante anos estudos com celulose a partir do eucalipto, conhecida como celulose de fibra curta.

Dessa forma, o Brasil não apenas se tornou o único país do mundo a produzir celulose a partir do eucalipto, como se tornou um gigante do setor com uma enorme vantagem competitiva em relação a outros países.

Só no ano passado, a Suzano teve uma receita líquida de 49,8 bilhões de reais. No total, a empresa comercializou 10,6 milhões de toneladas de celulose e 1,3 milhão de toneladas de papel no período. Atualmente, os produtos da Suzano alcançam cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo. E toda essa história, começou há quase 100 anos, quando um imigrante judeu se mudou para o Brasil em busca de oportunidades e começou trabalhando de mascate até passar a comercializar papéis.

Leon Feffer e a Suzano

Foto de Leon Feffer

A história da Suzano começa com a chegada de Leon Feffer no início da década de 1920 ao Brasil. Ao desembarcar no porto de Santos, Leon, um imigrante ucraniano de origem judaica, não falava uma palavra em português. Mas isso não o impediu de começar a trabalhar duro.

Por aqui, começou trabalhando como mascate, comprando e vendendo de tudo um pouco, inclusive papel. Em janeiro de 1924, registrou na Junta Comercial de São Paulo a sua primeira firma, batizada de Leon Feffer & Companhia. Dessa forma, Leon comprava papel no grande atacado e revendia para bazares e papelarias. Fazia suas visitas a pé ou de bonde e entregava as mercadorias em viagens sucessivas até comprar uma charrete que passou a ser o seu veículo de entregas.

Morando na rua Bresser, número 154, no Brás, Leon utilizava o porão da sua casa para guardar o estoque de mercadorias. No seu endereço anterior, guardava o estoque debaixo da sua própria cama. Logo passou da casa com porão para um novo endereço que servia como depósito e papelaria. Era uma loja localizada em um dos pontos mais movimentados do Brás, na rua Rangel Pestana junto ao teatro Colombo. Pouco tempo depois, alugou uma outra loja três vezes maior na mesma rua e inaugurou uma gráfica acoplada a uma fábrica de envelopes.

Como não havia máquinas automáticas para a produção de envelopes na época, o corte do papel, a dobradura e a colagem eram feitos manualmente. Atento às oportunidades, em meio à crise econômica de 1929, Leon soube da fatalidade de um incêndio em uma grande empresa concorrente. O fogo atingiu o imenso estoque de papel e, à primeira vista, as sobras pareciam inutilizáveis. Mas Leon percebeu que o estrago real era menor do que aparentava, e então, pegou dinheiro emprestado com amigos e comprou uma grande parte do  estoque a preço de banana.

Depois disso, alugou um armazém, comprou algumas guilhotinas para cortar as bordas queimadas e o transformou em estoque de papel novo, pronto para ser vendido ao preço de mercado. Como se não bastasse, depois que essa empresa vendeu seu estoque para Leon, ela decidiu abandonar o ramo definitivamente. Com isso, mais outra oportunidade surgiu.

A empresa tinha acabado de importar da Alemanha as melhores máquinas existentes para fabricação de envelopes. As máquinas ainda estavam no porto de Santos à espera de um comprador, e então, Leon saltou sobre a oportunidade e fechou o negócio. Agora, sem um concorrente de peso no caminho e com as melhores máquinas à sua disposição, Leon acelerou ainda mais o seu crescimento.

Por volta de 1930, já precisava ampliar novamente suas instalações. Além da fábrica de envelopes que, em pouco tempo, iria se transformar numa das maiores do país, Leon precisava de espaço para a tipografia e para o estoque de papel de uso próprio e revenda. Então, Leon decidiu construir um prédio na rua Barão do Ladário.

Foto aérea da antiga rua Barão do Ladário

A gráfica recebeu máquinas maiores, permitindo não apenas a confecção de circulares ou cartões de visitas, mas também de cartazes e a impressão de produtos industriais, como maços de cigarros. Mesmo expandindo as operações de forma agressiva, Leon ainda sentia as limitações de ser apenas um distribuidor de papel, e não um produtor.

Além disso, também existia um outro problema na operação: a dependência de matéria-prima importada. Os papéis tipo bond e cuchê vinham da Alemanha, enquanto o celofane era produzido no Japão. E como a ameaça de uma nova guerra pairava sobre a Europa em 1939, Leon sabia que não poderia depender de papel importado. Então, tomou uma decisão ousada.

Depois de mais de uma década atuando no comércio de papel, em 1939, Leon Feffer decidiu se tornar um produtor de papel. O problema era que montar uma fábrica de papel demandava pesados investimentos, e embora a empresa de Leon estivesse indo muito bem, ele não tinha o capital necessário para o projeto.

Sendo assim, ele foi para o tudo ou nada. Leon Feffer vendeu tudo o que tinha construído até então. Prédio, máquinas, o estoque de mercadorias, a casa onde morava e até as jóias da mulher. Depois disso, contratou o engenheiro norueguês Sverre Nielsen, que estava no Brasil a serviço de outra empresa. Nielsen foi um dos principais encarregados da parte técnica e orientou o projeto da fábrica, levantada num terreno de 11 mil metros quadrados no bairro do Ipiranga em São Paulo.

A primeira máquina para fabricação de papel foi encomendada em 1939 à empresa Cavallari, única fornecedora existente no Brasil desse equipamento. Logo depois se tornou evidente a inevitabilidade da guerra e a vantagem decorrente para quem se lançasse na substituição de importações. Quando outros industriais brasileiros tentaram encomendar máquinas de papel, já era tarde. A Cavallari não conseguia produzir mais de uma máquina por vez.

Máquinas de papel produzidas pela Cavallari

Em dois anos de muito trabalho e minucioso planejamento, a máquina de papel estava pronta, produzindo 20 toneladas por dia. A empreitada arriscada mostrou-se bem sucedida e abriu caminho para que a firma, agora denominada Indústria de Papel Leon Feffer & Companhia, seguisse progredindo.

No final da década de 40, já eram três máquinas com uma capacidade de produção conjunta de 55 toneladas por dia. Mas logo um novo problema surgiria. Os fluxos comerciais ainda não tinham se normalizado no pós-guerra e o período deixou evidente as aflições da dependência da matéria prima importada, afinal, o papel é feito a partir da celulose, e naquela época a celulose era importada. Foi quando Leon Feffer incumbiu seu filho Max de desenvolver uma alternativa à celulose importada.

Max Feffer, filho de Leon Feffer

A grande Inovação

Até aquele momento os produtos à base de papel se originavam apenas a partir da celulose de fibra longa, que são provenientes das árvores coníferas, como o pínus. Só para você entender, as fibras longas derivam de árvores próprias dos climas mais temperados do hemisfério norte e demoram em torno de 15 anos para serem colhidas.  Nos países nórdicos, tradicionais produtores de papéis de qualidade, a colheita pode demorar até 50 anos.  Pela propriedade de alta resistência destas fibras, elas são preferencialmente usadas para conferir rigidez às embalagens, porque suportam bem o peso e as fricções no transporte. 

Com a missão de encontrar uma alternativa à celulose de fibra longa e reduzir a sua dependência da matéria prima importada, Max Feffer reuniu um grupo de pesquisadores e começou a realizar centenas de testes. Depois de seis anos realizando experiências na Universidade da Flórida com eucalipto, bambu, bagaço de cana e algodão, o eucalipto se mostrou o mais vantajoso.

Grupo de pesquisadores reunido por Max

A título de comparação, enquanto as árvores de fibras longas como o pínus levam cerca de 15 anos para serem colhidas, o eucalipto é cortado a cada 7 anos, o que confere uma vantagem competitiva enorme frente às demais fibras. Sendo assim, a produção da celulose de eucalipto começou no primeiro semestre de 1956, após a compra da Indústria de Papel Euclides Damiani, em Suzano, a 50 km da capital paulista. Rebatizada de Companhia Suzano de Papel e Celulose, a empresa passou a abrigar uma planta-piloto de celulose com capacidade de 30 toneladas por dia.

Inicialmente, o produto final incluía uma base de celulose importada, misturada com apenas 30% de celulose de eucalipto. Logo depois, passou para 50% e continuou subindo. Em pouco tempo, a Suzano se tornou a primeira empresa no mundo a produzir celulose e papéis com 100% de fibra de eucalipto em escala industrial. Um feito que mudaria o setor de celulose no mundo nas décadas seguintes, fazendo com que o Brasil passasse de importador para exportador e maior produtor mundial de celulose.

Eucalipto sendo colhido

Nos anos 60 e 70, as sucessivas expansões na capacidade de produção de celulose eram rapidamente absorvidas pelas novas máquinas de papel, cuja qualidade e aceitação no mercado alimentavam demandas adicionais de celulose. O eucalipto mostrou-se altamente competitivo desde o início, abrindo caminho para exportação. Na década de 80, conhecida como a década perdida no Brasil, a Suzano criou uma joint venture com a Vale do Rio Doce chamada Bahia-Sul Celulose.

A fábrica, que começou a ser construída em 1987, entrou em operação em 1992 e demandou um investimento total de 1,4 bilhão de dólares. A unidade tinha capacidade instalada de 500 mil toneladas de celulose e 250 mil toneladas de papel. A década de 90, porém, trouxe algumas dificuldades para a Suzano. Isso porque o excesso de investimentos em novas fábricas nos anos anteriores, tanto no Brasil quanto no mundo, derrubou os preços da celulose e do papel.

Além disso, com a criação do plano real em 1994, o câmbio ficou desfavorável para o setor exportador, e isso afetou diretamente a operação da Bahia-Sul, que foi planejada especialmente para a exportação. O aperto durou até 1999, quando as exportações voltaram a se tornar atrativas após a maxidesvalorização do real.

Foi neste ano também, que a Suzano perdeu o seu fundador, o lendário Leon Feffer, que morreu aos 96 anos, vítima de insuficiência renal. Dois anos depois, seu filho, Max Feffer, que havia assumido o cargo de diretor presidente da companhia, morreu repentinamente aos 74 anos vítima de um infarto fulminante. Sendo assim, o desafio de comandar a companhia ficou para a terceira geração da família Feffer, liderada por David Feffer, o filho mais velho de Max.

Leon Feffer e Max Feffer

A Terceira Geração no controle de Suzano

Sob o comando de David Feffer, que já trabalhava há muitos anos na companhia, a Suzano continuou crescendo de forma acelerada. No mesmo ano em que David assumiu, em 2001, a Suzano comprou a participação da Vale no capital da Bahia Sul, que passou a se chamar unidade de Mucuri. Em 2004, a Suzano fechou mais um grande negócio, dessa vez em conjunto com a VCP (Votorantim Celulose e Papel). Foi a compra da Ripasa, controlada pelas famílias Zogbi, Derani e Zarzur. Segundo o Valor Econômico, as negociações duraram apenas 48 horas e o valor desembolsado pela Suzano e a VCP foi de 720 milhões de dólares em dinheiro.

David Feffer, neto de Leon Feffer

Para conduzir a operação da fábrica, foi formada a Conpacel, ou Consórcio Paulista de Papel e Celulose, na proporção de 50% para a Suzano e 50% para a VCP. Além da expansão da Suzano, um dos principais focos de David Feffer durante sua gestão foi fortalecer a Governança Corporativa da companhia. Dessa forma, a Suzano instituiu um novo modelo de gestão contendo três princípios fundamentais: controle definido, gestão profissional e compromisso com stakeholders.

Aqui, vale ressaltar que a Suzano já possuía o capital aberto desde 1980, contudo, sua gestão era muito centralizada em Leon e Max Feffer e a companhia não tinha a governança corporativa como uma de suas prioridades. Isso começou a mudar em 2004, quando David Feffer migrou a Suzano para o nível 1 da Bovespa.

Depois disso, tomou a difícil decisão de renunciar ao cargo de CEO da companhia para assumir o de presidente do conselho de administração, com o objetivo de tornar a gestão mais profissionalizada. Em 2007, a Suzano, que além de atuar no setor de papel e celulose também atuava no setor petroquímico desde os anos 70, decidiu focar seus esforços apenas no seu core business e vendeu a Suzano Petroquímica para a Petrobras por 2,7 bilhões de reais.

Suzano Petroquímica

Com o caixa cheio, a empresa conseguiu passar pela crise de 2008 sem grandes problemas, mesmo apresentando um prejuízo de R$ 451 milhões devido ao uso de derivativos cambiais. Embora tenha sido um resultado ruim, não chegou nem perto do prejuízo da sua principal rival, a Aracruz Celulose, que teve perdas de R$ 4,2 bilhões por conta das operações com derivativos. No ano seguinte ao prejuízo bilionário, a Aracruz Celulose foi incorporada pela VCP, a divisão de celulose do Grupo Votorantim, surgindo assim a Fibria, a então maior produtora de celulose do mundo. Enquanto isso, a Suzano seguia crescendo.

Em 2011, adquiriu a parte da VCP no capital da Ripasa, que passou a se chamar unidade Limeira. Em 2013, outro salto importante: a inauguração de uma nova fronteira no país com a planta de Imperatriz no Maranhão, um projeto audacioso à época com 1,5 milhão de toneladas de capacidade de celulose.  

Além disso, neste mesmo ano, Walter Schalka, então presidente da Votorantim Cimentos, assumiu como o CEO da Suzano, substituindo Antonio Maciel Neto, que ocupava o cargo desde 2006. Nos anos seguintes, com o forte crescimento tanto da Suzano quanto da sua principal rival, a Fibria, começaram a surgir rumores sobre uma potencial fusão entre as duas companhias. Especialmente pela proximidade entre as duas famílias controladoras, os Feffer e os Ermírio de Moraes, que já tinham sido sócios anos antes na Ripasa.

Após uma longa negociação, que demorou alguns anos para se chegar a um consenso em relação à participação de cada família no negócio, em 2018 foi anunciada a fusão entre Suzano e Fibria, dando origem à maior produtora mundial de celulose. A fusão, concluída em 2019, foi intermediada pelo BNDESpar, que detinha participações relevantes nas duas empresas. Mesmo com praticamente o dobro do tamanho da Suzano, os acionistas da Fibria ficaram com uma parte menor na nova empresa.

O grupo Votorantim preferiu manter uma participação menor na nova companhia, de 5,6%. O BNDES ficou com 11,1% da nova Suzano. Já o grupo Suzano ficou com 46,4% da nova empresa. Desde então, a Suzano segue crescendo de forma acelerada e batendo recordes. Seu mais novo investimento é o Projeto Cerrado, localizado em Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul.

Dados das participações de capital da companhia

Com capacidade para 2,3 milhões de toneladas de celulose por ano, o projeto Cerrado está previsto para ser inaugurado em 2024, no ano do centenário da companhia. Em 2022, a Suzano teve um faturamento de quase 50 bilhões de reais e um lucro líquido de mais de 23 bilhões de reais. Atualmente, a companhia conta com 37 mil colaboradores e presença em mais de 100 países.

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