O hedge fund que quase quebrou o mercado global

A história do Long Term Capital Management

O caso do Long Term Capital Management (LTCM) é, sem dúvida alguma, um dos episódios mais impressionantes da história do mercado financeiro. Sem exageros.

Fundado em 1994 por John Meriwether, uma das figuras mais respeitadas de Wall Street na época, o LTCM foi um dos hedge funds mais prestigiados do mercado financeiro global até 1998.

Formado por uma equipe brilhante de Ph.Ds, que trabalhavam juntos no departamento de arbitragem de renda fixa do banco Salomon Brothers, as credenciais dos sócios do LTCM logo chamaram atenção do mercado.

Meriwether formou simplesmente um dream team do mercado financeiro americano, entre eles: dois ganhadores do prêmio Nobel de Economia e um ex vice-presidente do Banco Central dos EUA.

Os demais sócios do fundo tinham um sólido background acadêmico, com a maioria possuindo Ph.Ds pelo MIT — um dos sócios tinha dois diplomas do MIT — além de outras prestigiadas universidades como Harvard e London School of Business.

Sendo assim, o LTCM não teve dificuldades em levantar recursos e, em fevereiro de 1994, foi o oficialmente lançado no mercado, captando o maior valor da história até então por um hedge fund, US$ 1,25 bilhão.

Com a aplicação inicial de US$ 10 milhões, grande parte dos clientes eram instituições financeiras renomadas ou personalidades influentes, dentre alguns destes ilustres investidores, estavam o lendário Banco Garantia (banco de Jorge Paulo Lemann), o banqueiro brasileiro Edmond Safra, e o fundador da Nike, Phil Knight.

On the run

A ideia de Meriwether era basicamente replicar o que o departamento de arbitragem fazia no Salomon Brothers, ou seja, comprar e vender títulos de renda fixa que apresentassem distorções entre preço e valor. Quando os títulos convergiam para o seu preço justo, o fundo ganhava dinheiro tanto na ponta comprada quanto na ponta vendida.

Para identificar tais distorções, os sócios desenvolveram modelos matemáticos altamente sofisticados, que se baseavam nos preços históricos dos títulos e alertavam caso algum determinado ativo apresentasse um comportamento incomum nos preços, representando uma possível oportunidade de arbitragem.

Como o spread das operações era muito pequeno, para ganhar dinheiro o fundo precisava operar alavancado, ou seja, pegar dinheiro emprestado.

Resultados

Nos primeiros quatro anos de operação, os resultados do fundo foram realmente impressionantes, aumentando ainda mais o respeito que o mercado tinha pelos sócios.

Rentabilidade:

1994: +28%

1995: +59%

1996: +57%

1997: +25%

E o mais incrível foi o fato do fundo entregar esses resultados correndo muito pouco risco, mostrando que seus modelos estatísticos realmente funcionavam.

Com a confiança em alta, o LTCM além de se alavancar ainda mais, começou a diversificar suas estratégias e passou a operar mercados de maior risco, como mercados emergentes, por exemplo.

Para se ter uma ideia da alavancagem do LTCM, em 1997, o capital próprio do fundo era de US$ 5 bilhões, no entanto, sua exposição total no mercado de derivativos era de US$ 1,25 trilhão.

O Colapso

Após quatro anos de performance espetacular, os matemáticos do LTCM, que já eram conhecidos no mercado por serem extremamente arrogantes, estavam com sentimento de invencibilidade, tomando cada vez mais risco conforme faziam mais e mais dinheiro.

A boa fase no entanto, durou até agosto de 1998.

Neste mês, um evento inesperado acabou abalando os mercados globais de crédito: o calote do governo na Rússia.

Os títulos públicos russos derreteram com a notícia da moratória da dívida e acabaram contagiando os spreads de títulos de diversos mercados emergentes, como Brasil, Argentina, México, entre outros.

E como isso afetou o LTCM? Simples.

Os maiores investimentos do fundo eram em títulos de mercados emergentes. E não era pouca coisa. Tratavam-se de posições gigantescas, a ponto de não ter liquidez suficiente para o fundo se desfazer a tempo.

O caos que por um momento afetou apenas o mercado de renda fixa, logo se espalhou para os mercados de ações e de câmbio ao redor do mundo, causando um forte movimento de aversão ao risco.

O LTCM — cujos acadêmicos haviam calculado com precisão que o máximo que o fundo poderia perder em um dia seria US$ 35 milhões — chegou a perder US$ 553 milhões no dia 21 de agosto de 1998 (15% do capital).

O patrimônio do fundo, de US$ 3,6 bilhões, evaporou em apenas 5 semanas, causando ainda mais pânico nos mercados globais.

O Resgate

Como a exposição dos principais bancos de investimentos de Wall Street ao LTCM era enorme, se o fundo quebrasse, muito provavelmente os bancos também quebrariam, podendo colapsar o mercado financeiro global e causar um efeito dominó.

O Long Term tinha se tornado Too Big To Fail, portanto, não era interesse dos bancos deixar o fundo quebrar, assim como também não era interesse do Fed (Banco Central dos EUA), deixar que isso acontecesse.

Para evitar um desastre, o Federal Reserve arquitetou junto com os bancos um resgate para o LTCM.

No total, 14 bancos formaram um consórcio para injetar US$ 3,65 bilhões no LTCM e salvar o hedge fund de ir à falência.

Sendo assim, o Fed conseguiu evitar o que seria uma das maiores catástrofes da história do mercado financeiro.

Fonte: When Genius Failed

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