Como Edmond Safra construiu um império financeiro global

Quando se fala na família Safra, que é uma das famílias mais ricas do Brasil, é bastante comum que o primeiro nome que nos vem à mente seja o de Joseph Safra. E não é por menos, afinal, Joseph Safra ou Seu José, como era chamado, chegou a ser considerado o banqueiro mais rico do mundo. O que nem todo mundo sabe, porém, é que seu irmão mais velho, Edmond Safra, realizou feitos ainda maiores que ele. Por mais incrível que isso possa parecer.

Para você ter uma ideia, Edmond Safra fundou 4 bancos em 3 continentes. Aos 33 anos, ele já era um renomado banqueiro internacional, dono de dois bancos, o Trade Development Bank, na Suíça, e Republic National Bank of New York, que chegou a ser um dos maiores bancos dos Estados Unidos. Inclusive, o famoso Banco Safra foi fundado por Edmond e seu pai, Jacob Safra. Os irmãos mais novos, Joseph e Moise Safra assumiram o comando alguns anos depois.

Considerado por muitos como o maior banqueiro da sua geração, Edmond Safra se tornou bilionário ao construir um império financeiro global. Contudo, enfrentou alguns episódios controversos ao longo da sua carreira. Um deles foi uma batalha judicial que travou contra a poderosa American Express, que espalhou boatos de que Edmond Safra estava envolvido com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

Sua morte, em um incêndio criminoso em Mônaco que aconteceu menos de um mês depois de vender seus bancos por 10 bilhões de dólares, também gerou muita polêmica e virou manchete no mundo todo. E diversas teorias da conspiração foram criadas. Quem teria mandado matar Edmond Safra? Seriam os Terrorista palestinos? A máfia da Rússia? Ou talvez Os cartéis colombianos?

Raízes de Edmond Safra

Nascido no dia 06 de agosto de 1932 em Aley, uma cidade próxima de Beirute no Líbano, Edmond Jacob Safra teve uma infância privilegiada. Seus pais, Jacob e Esther Safra, haviam se mudado para Beirute em 1920 em busca de uma vida mais segura. Eles eram de Aleppo, uma cidade na Síria que ocupava uma localização importante em uma das pontas da Rota da Seda, funcionando como ligação entre a Asia Central, a índia, o Extremo Oriente e a Europa.

Edmond em Aleppo

Durante séculos, caravanas cruzando de leste para oeste paravam em Aleppo, carregando seda persa, algodão sírio, produtos agrícolas e ouro, o que fez com a cidade se tornasse a terceira maior do império otomano. Foi neste contexto que Jacob Safra e outros membros da comunidade judaica prosperaram e permaneceram durante anos em Aleppo. Jacob tocava a empresa de câmbio da família junto com seus irmãos, a Safra Fréres, que desfrutava de um ambiente de estabilidade política e favorável aos negócios.

Mas as coisas mudaram rapidamente após o fim da primeira guerra mundial e a dissolução do império otomano. Com o anúncio do governo britânico feito em 1917 que favorecia a criação de uma pátria judaica na Palestina, os sentimentos antissemitas se inflamaram na região. Dessa forma, a família Safra e diversas outras famílias judaicas se mudaram da Síria em busca de segurança, um movimento que ficou conhecido com a diáspora de Alepo.

Um dos principais destinos escolhidos pela comunidade judaica foi a cidade de Beirute, no Líbano. Nessa época, Beirute, que fica a cerca de 370 km de distância de Alepo, era uma importante cidade do Oriente Médio e a capital política e comercial do Líbano. Entre a década de 20 e a década 40 foi uma era dourada para a comunidade judaica na cidade. 

Foto do banco fundado por Jacob

Em 1920, no ano em que chegou na cidade mediterrânea, Jacob Safra fundou o seu banco, o Banque Jacob E.Safra. Entre a década de 20 e a década de 30, Jacob e Esther tiveram 9 filhos, que tiveram uma infância tranquila e puderam desfrutar de todo o conforto proporcionado pela condição financeira privilegiada da família. Edmond começou a trabalhar cedo no negócio da família. Com apenas 8 anos, após a escola, ele já ia para o escritório de Jacob acompanhar sua rotina.

Dessa forma, aprendeu desde criança como um banco funcionava e como os negócios eram feitos. Também na infância, além das importantes lições de negócios aprendidas com seu pai, Edmond já era fluente em mais de uma língua. Falava árabe nas ruas, francês na escola e hebraico na Sinagoga e anos mais tarde ainda aprenderia mais três idiomas.

Sua facilidade com línguas e com números fez com que Jacob enviasse Edmond para Milão em 1947 para encontrar oportunidades de negócios para o banco, quando Edmond tinha apenas 15 anos. Morando em um país diferente com apenas 15 anos, Edmond demonstrou outra habilidade que seria muito importante ao longo da sua carreira: a capacidade de se relacionar e fazer contatos.

Edmond e amigos em um restaurante em Milão

Em Milão, mesmo com pouca idade, construiu uma sólida rede de contatos e realizou diversas operações de arbitragem nos mercados de ouro e de câmbio em nome de seu pai. No período em que Edmond esteve fora, porém, o Líbano foi deixando de ser um ambiente seguro para a população judaica, especialmente depois da fundação do Estado de Israel em 1948. O ambiente hostil aos judeus fez com que a família Safra procurasse um novo lugar para morar. O lugar escolhido foi o Brasil, um país aberto a imigrantes e distante dos conflitos do Oriente Médio.

Como Jacob Safra, aos 63 anos, começava a sentir os efeitos de uma série de doenças, a responsabilidade de levar a família para o Brasil ficou com Edmond. E então, no verão de 1954, a família Safra chegou ao Brasil, que na época tinha 63 milhões de habitantes e crescia de forma acelerada.

Jacob e Edmond na sua chegada ao Brasil

Inicialmente, os Safra escolheram o Rio de Janeiro para morar e Edmond se mudou de Milão para morar junto com a família no Brasil. Assim como Beirute, o Rio de Janeiro era uma cidade cosmopolita situada entre o mar e as montanhas, com um clima mediterrâneo e uma cultura descontraída. E logo que chegaram, os Safra já foram direto aos negócios. Mesmo sendo um país aberto para os imigrantes, a economia do Brasil era fechada.

Como nessa época somente cidadãos brasileiros podiam ser donos de bancos e o comércio de ouro era monopolizado pelo governo, que eram os negócios em que a família Safra era especialistas, eles tiveram que encontrar outra área para atuar. Com os recursos da família e uma grande rede de contatos na Europa e no Oriente Médio, a oportunidade encontrada por Edmond foi atuar na área de importação e exportação.

Na década de 50, o Brasil seguia uma política de substituição dos importados, que encorajava os fabricantes domésticos e desencorajava as importações. Isso significava que as fábricas brasileiras precisavam de matéria-prima e maquinário que o Brasil não podia produzir. Ao mesmo tempo, o país produzia commodities como café e algodão, que nas circunstâncias certas podiam encontrar mercados lucrativos do outro lado do oceano.

Sendo assim, em julho de 1954, Edmond fundou uma empresa chamada Algobras Indústria e Comércio de Algodão Limitada, em um escritório localizado na Avenida Rio Branco, a principal via comercial do Rio de Janeiro na época. Imediatamente, Edmond começou a acessar suas redes de contatos na Europa em busca de oportunidades de negócios.

Pouco tempo depois, mudou o nome da empresa para Expansão Comercial Sul Americana S.A, ou ECSA e passou a negociar os mais variados tipos de mercadorias, como máquinas e produtos químicos, que eram escassos no Brasil e abundantes em países como a Alemanha Ocidental, Hungria e Iugoslávia. No ano seguinte, em 1955, Edmond fundou mais uma empresa, a Safra Importação e Comércio.

Além da nova empresa, Edmond e a família também decidiram se mudar para São Paulo, em função do forte crescimento econômico da capital paulista na época. Como se não bastasse as duas empresas no Brasil, em 1956, Edmond decidiu criar mais um negócio, só que dessa vez em Genebra, na Suíça.

Essa empresa era a Sudafin, uma empresa especializada em comércio internacional e que era irmã das empresas de São Paulo e de Beirute. Em pouco tempo, Edmond Safra criou uma rede global de empresas que comercializava os mais diversos tipos de produtos. Relógios suíços, agulhas alemãs, colheitadeiras e até camarões congelados que eram enviados de Hong Kong para os Estados Unidos. Tudo isso era negociado pelas empresas de Safra.

Mesmo com o enorme sucesso de suas operações comerciais, Edmond Safra ainda não estava satisfeito. Ele queria mais. Seu próximo passo foi abrir um banco na Suíça.

Um banqueiro internacional

Edmond aos seus 27 anos

Genebra, 21 de abril de 1960. Essa foi a data em que Edmond Safra, com apenas 27 anos, recebeu a licença bancária para transformar a Sudafin em um banco. Nascia assim o Trade Development Bank, o TDB, uma jogada ambiciosa de um jovem judeu libanês com passaporte brasileiro. Mesmo sendo um visitante regular de Genebra desde 1948 e possuir conexões importantes na cidade, Edmond sabia que desafiar o feudo histórico dos private banks suíços não seria uma tarefa fácil.

Ainda assim, percebendo a oportunidade, ele foi em frente. Graças a neutralidade política da Suíça, seu estrito regime de sigilo bancário e a sua grande estabilidade, Genebra atraia muito capital de pessoas ricas do mundo todo que queriam proteger o seu patrimônio. Xeiques sauditas do petróleo, industriais italianos e empresários sul-americanos sofrendo com inflação e a instabilidade política estavam entre os principais clientes dos bancos suíços.

Mas havia um outro perfil de clientes que chamou a atenção de Edmond. Quando os judeus começaram a sair de países como Líbano, Egito e Marrocos, eles tinham poucos lugares em que confiavam para guardar o seu dinheiro. Os bancos judaicos na Europa eram muito pequenos e os gigantes como UBS na Suíça não recebiam bem esse tipo de clientes. Edmond Safra, por outro lado, tinha ótimos relacionamentos com famílias judaicas de diversos países, especialmente entre os judeus sefarditas.

Volksbank um dos bancos judaicos da época

Dessa forma, o TDB acabou sendo o principal destino do capital dessas famílias, que tinham grande confiança em Edmond Safra. O banco cresceu rápido e logo abriu filiais em Paris, Buenos Aires e Milão. No Brasil, o TDB usava o mesmo escritório da Safra S.A, que posteriormente se transformaria no Banco Safra, em São Paulo. Mesmo com os depósitos crescendo de forma acelerada, o TDB continuou focado apenas nos negócios que conhecia profundamente: negociação de ouro, moedas, e empréstimos de baixo risco, principalmente para instituições e multinacionais.

Edmond evitava os negócios de hipotecas e empréstimos pessoais porque achava arriscado demais. Assim, ele só emprestava dinheiro para quem realmente tivesse condições de pagar o empréstimo. E sempre com garantias. Entre alguns clientes do TDB estavam usinas siderúrgicas na Colômbia, financeiras argentinas e até as operações da Mercedes e da Cummins no Brasil. Além dos negócios realizados na Suíça e no Brasil, Edmond começou a forjar laços pessoais e profissionais em uma nova fronteira: os Estados Unidos.

Inclusive, foi através de um de seus contatos em Nova York que Edmond conseguiu um estágio para o seu irmão mais novo, Joseph Safra, no banco Bear Stearns e depois no Bank of America em 1961. Quanto mais Edmond se aproximava do mercado americano, mais ele pensava que deveria aumentar sua presença no país. Então, em 1963, com 31 anos e já pertencente à elite bancária global, Edmond começou a planejar sua entrada nos Estados Unidos, a maior economia do mundo. A oportunidade era enorme.

Faixada do Bank of America

Os Estados Unidos ofereciam a combinação perfeita para empreendedores financeiros: uma classe média grande, próspera e ávida para consumir. Tudo isso embrulhado em um sistema bancário regulado no qual o governo garantia os depósitos e o banco central supervisionava cuidadosamente as transações. Além disso, Nova York, que foi a cidade escolhida por Edmond, tinha uma grande comunidade de judeus sírios, entre os quais ele seria bem-vindo.

Sendo assim, Edmond desembarcou em Nova York em 1964 e começou a trabalhar para executar o seu plano. O primeiro passo foi conseguir a licença bancária. Então, acionou seus contatos e conseguiu uma reunião com James Saxon, o então controlador da moeda e que era o responsável por conceder as licenças para as instituições financeiras.

James Saxon

Perguntado sobre qual seria o nome do banco, Edmond respondeu, Republic National Bank Of New York. Segundo ele, esse foi o nome mais americano que conseguiu pensar. Dessa forma, dificilmente os clientes americanos pensariam que o banco fosse de um banqueiro libanês naturalizado brasileiro e que morava na Suíça. Confiante de que conseguiria a licença bancária, o próximo passo de Edmond foi procurar um local para a sede do banco.

Como ele queria um lugar que servisse tanto de sede comercial quanto sua residência, Edmond acabou comprando um edifício inteiro de dez andares na quinta avenida em julho de 1964, por cerca de US$ 1 milhão. No prédio de estilo europeu, construído em 1902, ficava a Knox Hat Company, uma tradicional fabricante de chapéus americana.

Segundo uma lenda, Edmond Safra foi comprar um chapéu e acabou comprando o prédio. Se isso é verdade ou não, não temos como saber. O que se sabe é que logo após comprar o belíssimo prédio, Edmond investiu mais US$ 2 milhões em uma reforma.

Os primeiros 8 andares ficaram destinados para as operações do banco, com a agência no térreo e os escritórios para os funcionários nos outros andares. No nono e no décimo andar ficava o luxuoso apartamento de Edmond, que estava passando cada vez mais tempo em Nova York.

Prédio Knox

Na manhã de segunda-feira, 24 de janeiro de 1966, o então senador Robert F. Kennedy, cortou a fita cerimonial e inaugurou formalmente o edifício. Com o slogan: “um novo banco, com quase um século de existência”,  o Republic abriu 1200 contas no seu primeiro dia. Para ganhar mercado, em 1968 o Republic se aproveitou de uma brecha na regulamentação e criou uma campanha de marketing histórica.

Pela lei, os bancos eram proibidos de oferecer incentivos maiores que uma pequena quantia aos clientes, uma prática muito comum na época, quando os bancos ofereciam brindes como torradeiras ou panelas para quem abrisse uma conta. Contudo, a regulamentação não falava nada sobre o que o banco podia oferecer para quem indicasse o banco para outra pessoa.

Assim, o Republic começou a fazer anúncios que dizia: “traga seus amigos e ganhe uma tv.” O sucesso da campanha foi imediato e logo se formaram filas na porta da agência do Republic. Com o sucesso da campanha, os depósitos do Republic cresceram 43% em 1969 e mais de 50% em 1970. Enquanto Edmond se dividia nas operações do Republic em Nova York e no TDB na Suíça, seus irmãos Joseph e Moise cuidavam das operações no Brasil.

Notícia on NWT sobre o banco

Em 1972, Edmond deu mais um passo importante na sua carreira como banqueiro e abriu o capital do TDB na bolsa de Londres. Aos 40 anos, Edmond Safra já era um banqueiro respeitado na comunidade bancária internacional e ao longo da década de 70, suas operações cresceram de forma significativa, mesmo com a sua abordagem cautelosa na hora de fechar negócios. Só para você ter uma ideia, em 1977, 90% dos empréstimos do TDB foram para bancos e agências governamentais, sendo que muitos deles eram garantidos pelo FMI.

Edmond sempre dizia às pessoas que a sua filosofia, baseada nos ensinamentos de seu pai era “ganhe somente 1 dólar por dia, mas ganhe todos os dias”. E foi justamente essa consistência, de ganhar sempre e manter riscos calculados, que tornou os bancos de Edmond uma fortaleza financeira. Algo que seria útil nos momentos de turbulência que enfrentaria nos anos seguintes.

Turbulências na vida de Edmond Safra

Edmond e Joseph

A vida de Edmond Safra era um sucesso sob todos os aspectos. Profissionalmente, o banqueiro havia fundado do zero dois bancos que em 1981 somavam 12 bilhões de doláres em ativos. Detalhe: um em Nova York e outro em Genebra. No âmbito pessoal, Edmond estava muito feliz com seu casamento com a brasileira Lily Monteverde, viúva do empresário Frederico Monteverde, o fundador da rede de varejo Ponto Frio.

Vale lembrar, que o relacionamento de Edmond com Lily não foi bem aceito pela família Safra, especialmente por seus irmãos Joseph e Moise, porque Lily não era Sefardita e já tinha filhos. Mesmo assim, Edmond seguiu em frente e em 14 de junho de 1976 se casou com Lily em Genebra, numa festa com cerca de 250 convidados. Aqui só uma curiosidade: de acordo com o jornal britânico Financial Times, o acordo Pré-Nupcial de Edmond Safra tinha mais de 600 páginas.

Edmond e Lily

Mas voltando aos negócios de Edmond, mesmo com tudo dando certo em sua vida, ele começou a ficar preocupado com o cenário que estava se desenhando. Edmond era conhecido por ser paranóico e muito supersticioso, e então, no início da década de 80, mesmo com a solidez dos ativos dos seus bancos, ele sentiu que deveria reduzir ainda mais o risco das suas operações. Com o México dando o calote na sua dívida externa, a Inglaterra em guerra com a Argentina pelas Malvinas e a França nacionalizando empresas e minando a confiança dos empresários, em 1982, Edmond decidiu buscar por segurança.

Mesmo com mercados emergentes como Brasil, México, e Venezuela respondendo por menos de 10% dos ativos do TDB, Edmond não queria correr o risco e então decidiu vender o banco para uma instituição financeira de peso. Sendo assim, em 1983, ele vendeu o Trade Development Bank por 550 milhões de dólares para a American Express, uma das maiores instituições financeiras do mundo.

Como parte do acordo, Edmond seria o Presidente do Conselho e CEO da American Express International Banking Corporation em Genebra, recebendo 175 milhões de francos suíços em dinheiro e o restante em ações da American Express. O que fez com que Edmond se tornasse o maior acionista individual da empresa na época, com quase 2% das ações em circulação.

O acordo, no entanto, foi um desastre e o casamento entre Edmond Safra e a American Express durou apenas um ano devido aos diversos conflitos entre o banqueiro e os executivos da empresa. Como se não bastasse o relacionamento complicado entre as duas partes, quando Edmond foi abrir um novo banco em 1988, logo após o fim do período de não-competição assinado por ele, os executivos da American Express fizeram algo inacreditável.

Reportagem no NWT sobre o caso

A American Express sabia que seria muito difícil competir com Edmond Safra no mercado de private banking da Suíça, e então, com o objetivo de atrapalhar os planos de Edmond, alguns executivos iniciaram uma campanha de difamação. Todo o mercado sabia o quanto a reputação de Edmond Safra era importante para ele, sendo assim, a American Express começou a implantar boatos de que o banqueiro libanês estava envolvido com tráfico de morfina e lavagem de dinheiro dos cartéis colombianos.

O objetivo da campanha era manchar a imagem de Edmond e fazer com que o governo suíço não liberasse a licença bancária para o seu novo banco. Edmond ficou furioso com os ataques à sua imagem e montou uma equipe de advogados e investigadores para saber quem estava implantando todas essas mentiras na imprensa internacional.

No final, foi descoberto que um sujeito chamado Tony Greco, estava sendo pago pela American Express para implantar essas histórias em revistas e jornais na França, na Itália, no México e até na Argentina. Quando o escândalo foi descoberto, o CEO da American Express, Jim Robinson, concordou em fazer um pedido público de desculpas e pagar uma indenização de 8 milhões de dólares para Edmond Safra, que doou para instituições filantrópicas.

Jim Robinson, CEO da American Express

Inclusive tem um livro que fala só sobre esse escândalo envolvendo a American Express e o Edmond Safra, vamos deixar o link na descrição desse vídeo. Mas voltando aos negócios, de Safra, a campanha de difamação da American Express não funcionou e em 1988 Edmond fundou o seu terceiro banco, o Safra Republic Holdings.

Agora, Edmond Safra estava de volta ao jogo e seu império bancário global estava mais conectado do que nunca. No Brasil, o Banco Safra seguia crescendo sob o comando dos seus irmãos Joseph e Moise e nos Estados Unidos, o Republic já havia se tornado o 11º maior banco do país, com cerca de 29 bilhões de dólares em depósitos. Com a chegada dos anos 90, a economia global passava por uma série de mudanças, como a queda da União Soviética, o aumento da participação da China no comércio internacional e a aprovação do acordo comercial NAFTA.

Agora, a tendência era de maior integração financeira e comercial entre os países, o que de certa forma diminuia as oportunidades de arbitragem que Edmond operava. Mesmo diante de um novo cenário, ele continuou encontrando formas de ganhar dinheiro. Uma delas foi em 1995 na Rússia, quando investiu cerca de US$ 25 milhões e se tornou sócio do investidor Bill Browder, em um hedge fund chamado Hermitage Fund, focado em comprar ações de empresas russas.

Yitzhak Navon, Nina Avidar Weiner e Edmond Safra, respectivamente

Contudo, sua saúde começou a se deteriorar. Edmond foi diagnosticado com Mal de Parkinson, uma doença neurológica degenerativa que afetaria profundamente tanto o seu quanto o futuro dos seus bancos. Como não teve filhos e os seus irmãos estavam ocupados tocando a operação do Banco Safra no Brasil, Edmond se convenceu de que não teria outra alternativa a não ser vender os seus bancos.

Dessa forma, Edmond e seus executivos começaram a dar andamento no processo de venda. Entre os potenciais compradores que mostraram interesse, logo um se destacou, o  HSBC. Edmond queria evitar os erros da venda para a American Express e vender os seus bancos para uma instituição financeira segura e que tivesse condições de pagar pela aquisição em dinheiro.

Como o HSBC tinha 5 mil escritórios em 79 países e mais de 483 bilhões de dólares em ativos na época, o CEO do banco, John Bond, aceitou comprar os bancos de Edmond Safra em 1999 por 10 bilhões de dólares. Em dinheiro. À vista. Porém, infelizmente, uma tragédia estava prestes a acontecer.

Tragédia em Mônaco

Devido a sua saúde fragilizada, Edmond Safra decidiu se mudar para um apartamento em Mônaco. Até então, Edmond e Lily se dividiam entre suas diversas propriedades. O casal possuía apartamentos em Nova York, Londres, Paris e Genebra.

O novo apartamento, de 1.600 metros quadrados nos últimos dois andares do edifício La Belle Époque, em Monte-Carlo, Mônaco, oferecia tudo o que eles precisavam. Fácil acesso a lojas, restaurantes, assistência médica e segurança.

Faixada do prédio em Mônaco

Além dos apartamentos, eles também eram os donos de uma propriedade lendária localizada na Riviera Francesa, a La Leopolda, avaliada em US$ 750 milhões e que já foi considerada a mansão mais cara do mundo.

Conforme sua saúde foi se deteriorando, Edmond precisou de uma equipe de enfermeiros em tempo integral. Aparentemente tudo ia bem, e Edmond já estava planejando quais seriam os seus próximos passos. Dos US$ 10 bilhões da venda para o HSBC, ele receberia US$ 3 bilhões em dinheiro e teria que colocar esse valor para trabalhar. Até que o inesperado aconteceu.

Na madrugada de 3 de dezembro de 1999, um enfermeiro chamado Ted Maher acordou Edmond informando que um intruso havia entrado no apartamento e orientou que ele se escondesse no closet. Ele disse também que tinha sido ferido pelo assaltante. Com a ajuda de outra enfermeira de plantão, chamada Vivian Torrente, eles se trancaram no Closet e ligaram para Lily Safra, que dormia em um quarto separado.

Ted Maher, enfermeiro de Edmond

Imediatamente, Lily avisou a equipe de seguranças da família, que estavam na La Leopolda, a cerca de 15 minutos de Monte Carlo. Enquanto os seguranças, que eram basicamente veteranos do Mossad, iam até o local, um incêndio começou a se espalhar por todo o apartamento.

Depois de três horas com os bombeiros e a polícia de Mônaco tentando controlar o fogo, Edmond Safra e a enfermeira Vivian Torrente foram encontrados mortos em virtude da inalação de fumaça. Durante as primeiras 24 horas da morte de Edmond Safra, as circunstâncias permaneceram um mistério.

Como que os assaltantes teriam conseguido entrar em um apartamento com um sistema de segurança praticamente inviolável? Com vidros blindados e câmeras por toda parte. Logo a verdade veio à tona. Na verdade não teve nenhum intruso. Tudo não passava de um plano do enfermeiro Ted Maher.

Sua ideia era fingir que o apartamento tinha sido invadido para que ele salvasse Edmond Safra e ele saísse como um herói. Mas na prática deu tudo errado. Na segunda-feira, 06 de dezembro, Maher confessou que foi ele que começou o incêndio e ele mesmo havia se ferido com uma faca, para deixar a história mais realista. A notícia chocou o mundo na época.

Mesmo com a confissão de Maher, as teorias da conspiração começaram a surgir. Alguns alegavam que a Máfia Russa, inimiga de Edmond e Bill Browder era a responsável pelo crime e que a história estava muito mal contada, porque Taher assinou sua confissão em francês, sem saber o que estava assinando, visto que ele era americano e não sabia francês.

Outros achavam que eram os cartéis de drogas, que segundo a campanha de difamação da American Express, lavavam dinheiro com Edmond Safra. Segundo a justiça, porém, a culpa do crime realmente de Ted Maher, que foi condenado a 10 anos de prisão em dezembro de 2002.

Fundação filantrópica Edmond J. Safra

No dia 31 de dezembro de 1999, o HSBC fez o pagamento da aquisição dos dois bancos de Edmond Safra, num total de mais de 10 bilhões de dólares. Os 3 bilhões de dólares de Edmond ficaram para sua esposa Lily Safra e para a Fundação Edmond J. Safra. Após a transação, os bancos de Edmond se transformaram no HSBC Republic Bank.

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