A brasileira Bauducco é a maior fabricante de panetones do mundo. Por ano, são fabricados cerca de 80 milhões de panetones pela empresa. Mais de 70 anos depois de ser criada, ainda hoje, a empresa segue pertencendo a família Bauducco. E essa é uma grande história de sucesso empresarial. Estima-se que, em 2022, a empresa tenha faturado 5 bilhões de reais.
No Brasil é tradição, na época de Natal tem que ter panetone nas mesas dos brasileiros. Mas e se eu te contar que não foi sempre assim? Quando o italiano Carlo Bauducco chegou aqui, nos anos 50, para cobrar uma dívida, os panetones praticamente não existiam no país. Mas quando Carlo conheceu São Paulo, ele se sentiu em casa e pelo seu instinto nos negócios resolveu trazer sua família para o Brasil.
Sim, o começo da Bauducco aconteceu meio sem querer. Mas a empresa soube ser inovadora e, ao mesmo tempo, não perder sua essência tradicional. Fato relevante é que até hoje eles usam a mesma massa para seus panetones. De geração em geração, os Bauducco foram conquistando o Brasil e hoje estão em mais de 50 países. Só nos Estados Unidos estão em mais de 70 mil pontos de venda e a Bauducco é líder de mercado por lá.
Mérica Mérica Mérica
Era uma vez uma família, que morava em uma localidade chamada Moncalieri próximo a cidade de Turim na Itália. Lá nasceu Carlo Bauducco, em 1906. Carlo cresceu junto com mais 5 irmãos. Pouco se sabe sobre seus primeiros anos, mas o certo é que por lá viveram tempos sombrios, com 2 grandes guerras que deixaram a Itália completamente destruída.
Foi nesse cenário que Carlo trabalhou ao longo da sua vida como vendedor, principalmente do ramo de café. Já com 42 anos, ele que, naquela época era um representante comercial, desembarcou pela primeira vez no Brasil. O motivo para cruzar o Atlântico de navio não era agradável. Carlo vinha cobrar uma dívida de máquinas de modelagem de pão, que ele tinha vendido mas tomou um calote.
Mesmo não falando uma palavra sequer em português, conseguiu recuperar parte do dinheiro que havia perdido. Mas apesar da ocasião não ser a melhor, Carlo encantou-se pela cidade de São Paulo e sentiu-se em casa. O porquê disso? Provavelmente porque São Paulo tinha uma comunidade italiana muito grande.
Só para você ter uma ideia: os dois principais jornais da cidade eram o Estado de São Paulo, que era escrito em português, e o Fanfulla, escrito em italiano. E detalhe: Os dois vendiam o mesmo número de exemplares.
Nessa época Carlo já tinha vida constituída na Itália. Ele era casado com Iris Margherita Constantino e seu único filho, chamado Luigi, era um adolescente de 17 anos. Mas o verdadeiro motivo que o fez vislumbrar um futuro no Brasil veio através do seu apurado faro para negócios.
Conta a história que era época de natal e Carlo estava no Brasil a negócios. Carlo queria comprar uns panetones para dar de presente, assim como fazia na Itália. Porém, quando foi procurar por São Paulo, não encontrou. Então, pensou: por que não começar uma fábrica de panetones por aqui? Era uma época que Carlo ia e voltava da Itália à negócios. Então, resolveu vender tudo no seu país e mudar de vez para o Brasil.
Nasce a Bauducco
Em 1950, Carlo Bauducco chegava ao Brasil em definitivo, junto de sua esposa e seu filho Luigi para vender panetones para a comunidade italiana de São Paulo.Curiosamente, Carlo não cozinhava. Para cuidar da preparação das guloseimas, o patriarca convidou seu conterrâneo Armando Poppa para criar a fórmula original do doce recheado de frutas cristalizadas.
Porém ele tinha um problema, a lei brasileira só permitia que estrangeiros abrissem empresas com sócios brasileiros, então Carlo associou-se aos irmãos Lanci, brasileiros filho de um italiano. Mas já em 1952 essa lei foi extinta. Assim, Carlo Bauducco inaugurou sua própria doceria, a Doceria Bauducco, que no começo era apenas uma pequena confeitaria no bairro do Brás em São Paulo.
Além dos panetones, produzia biscoitos tipo Champanhe, doces e salgados. Carlo e sua família trabalhavam incansavelmente para fazer a pequena confeitaria prosperar. Luigi ajudava na produção e nas vendas e Margherita, era responsável pela administração dos negócios.
Um fato inusitado, mas que demonstra o quanto Carlo era arrojado, foi ele ter utilizado técnicas um tanto quanto inusitadas de marketing para a época. Logo depois da abertura da primeira loja, ele encheu um avião de folhetos com propagandas da doceria e os espalhou pela cidade.
Conseguiu, ao mesmo tempo, divulgar o panetone, desconhecido para muita gente, e vender todo o estoque em apenas três dias. Mas nem tudo eram flores…
Os primeiros problemas
Eles também tiveram grandes dificuldades. Como, por exemplo, encontrar farinha. Aqui no Brasil ele não encontrava farinhas adequadas para seus panetones, que precisavam de um alto teor de glúten para manter sua elasticidade. Então, muitas vezes, os Bauducco tocavam quilos de panetone fora, porque as massas simplesmente não cresciam ou não ficavam com a textura certa.
Mesmo com essas dificuldades, sua doceria prosperava e os panetones, ano a ano, ficavam mais famosos. Já perto dos anos 60, os Bauducco tiveram a ideia de fazer cestas de natal com panettones e vendê-las a prazo. E a ideia, a princípio, deu certo e vendendo muito. Mas um novo grande problema surgiu e ofereceu um grande risco para a reputação dos Bauducco.
Os panetones da cesta de natal eram produzidos entre maio e junho, mas quando os clientes os recebiam, geralmente em dezembro, eles estavam mofados. Então, Carlo voltou à Itália para procurar entender como poderia resolver seu problema. Por lá conheceu a massa madre, que é um processo de fermentação natural passado de geração a geração, tendo seus primeiros registros em 3.700 antes de Cristo. Carlo trouxe um pedaço da massa madre consigo na viagem de navio e acabou resolvendo os problemas dos antigos panetones da empresa.
O salto da Bauducco
O salto da produção artesanal para industrial aconteceu em 1962, com a inauguração de uma fábrica de 600 metros quadrados em Guarulhos. Com isso, novas novas linhas de produtos foram criadas. Três anos depois, observando o hábito do brasileiro de querer apalpar o produto, o que muitas vezes estragava o panetone, a marca decidiu criar uma embalagem mais resistente, feita de papelão que viria a ser icônica no futuro.
Nessa caixa, o panettone encontrava-se devidamente protegido. O mesmo aconteceu posteriormente com a linha de biscoitos. Essas mudanças aconteceram muito em função da entrada dos produtos da Bauducco nos supermercados, o que também ajudou a impulsionar a marca. Até ali, a Bauducco dependia da boa vontade dos vendedores de confeitarias. Mas agora, com os produtos expostos, muito mais pessoas puderam conhecê-los.
Esses produtos da Bauducco passaram a ser conhecidos, principalmente pela chamada “compra de impulso”, característica de muitos clientes de supermercados da época. Uma amostra do sucesso que a empresa passava foi a de que já em 1979 foram feitas as primeiras exportações para os Estados Unidos. Mas os anos 80 foram desafiadores para a empresa assim como para todos os brasileiros. Com a hiperinflação e a grande crise que se instalou no país, era preciso inovar e procurar novas linhas de produtos.
A empresa era altamente dependente do panetone, que nessa época, era responsável por 90% do faturamento da empresa. Nos anos seguintes a Bauducco lançou no mercado vários produtos inovadores, como, por exemplo, as linhas de torradas e a deliciosa Colomba Pascal. Mas, talvez, a criação mais emblemática dessa época tenha nascido de uma ideia de Massimo Bauducco.
O filho de Luigi e neto do fundador Carlo, quando tinha apenas 19 anos, sugeriu uma novidade que havia visto na Itália: colocar chocolate nos panetones. Esse era o embrião do que viria a ser o Chocottone. Rapidamente a novidade fisgou novos clientes, principalmente os que não gostavam de comer frutas cristalizadas que compunham os panetones. A Bauducco prosperava, mas novamente, um grande desafio estava prestes a acontecer.
Das cinzas renasce a Bauducco
No dia 11 de janeiro de 1981, a fábrica de Guarulhos pegou fogo, destruindo grande parte dela. Muitos pensaram que tudo acabaria ali. No entanto, os amigos da família se uniram em torno do drama dos Bauducco. Um grande exemplo disso foi o dono da Seven Boys, Senhor Franklin. Franklin enviou alguns dos seus mecânicos para reconstruir a fábrica. Além disso, outros amigos emprestaram equipamentos.
Por sorte, a massa madre foi mantida. Então, todos juntos, a família Bauducco, amigos e seus funcionários, aos poucos, foram reconstruindo a fábrica. Passado esse novo drama a empresa teve um novo grande salto. A empresa Bauducco a partir dos anos 90 transformou-se no grupo Pandurata, criado para englobar todas as marcas da companhia
Em 1996, já com Massimo à frente da empresa, foi criada uma identidade visual para toda a linha, o que era uma grande inovação para a época. O amarelo, cor predominante até hoje, simboliza a luz do sol e o trigo, base de todos os produtos da empresa. Junto com a mudança das embalagens, foi veiculado um filme publicitário contando a chegada da família Bauducco ao Brasil.
Essas ações renderam diversos prêmios de marketing para a empresa. Essa aposta alta em marketing acelerou o crescimento e a Bauducco alcançou a marca de 150 milhões de consumidores no Brasil. No momento em que a empresa conquistava o país, uma das mais importantes decisões da história da Bauducco foi tomada. Massimo, que trabalhava ao lado dos irmãos Silvana e Andrea, que hoje é o CEO da empresa. Juntos decidiram comprar a sua principal concorrente: a Visconti, em 2001.
Essa aquisição consolidou a Bauducco na liderança do segmento, com uma fatia de 70% do mercado de panetones. O executivo também investiu na diversificação dos produtos. A empresa passou a fazer biscoitos de vários tipos, bolos e barrinhas recheadas.
Em 2012, a Bauducco inaugurou a primeira loja “Casa Bauducco”, em São Paulo, inspirada em empresas como Apple e a Coca-Cola, que possuíam suas lojas próprias. Esse foi um importante passo, com a entrada da Bauducco no segmento de varejo e, de certa forma, um resgate às origens da empresa. A inauguração de novas unidades vem aumentando desde 2015, quando foi criado o modelo de franquia.
A família só cresce
Atualmente, a empresa conta com 130 lojas Casa Bauducco e pretende alcançar a marca de 500 unidades inauguradas nos próximos 5 anos. Além disso, a Bauducco também vem crescendo no exterior. Só nos Estados Unidos seus produtos chegaram a mais de 70 mil pontos de venda, no fim de 2022. Por lá, em 2018, a Bauducco inaugurou sua primeira fábrica internacional, em Miami.
Atualmente a Bauducco distribui seus produtos em mais de 50 países. No ano de 2022, as estimativas dão conta que a empresa faturou cerca de 5 bilhões de reais e se consolidou como uma das maiores fabricantes de produtos forneados da América do Sul. Carlo Bauducco morreu em 1972, aos 66 anos. Margherita Constantino morreu em 1978, aos 77 anos. Luigi Bauducco morreu em 2020, aos 88 anos.
Os fundadores da Bauducco se foram, mas suas tradições não. Seus descendentes seguiram a trajetória de sucesso familiar e ajudaram a transformar os produtos da Bauducco em itens que fazem parte da cultura, não só do Brasil, mas como do mundo todo.
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