Foi no final de março de 2021 que uma movimentação atípica no mercado começou chamar atenção dos operadores de Wall Street.
Ordens e mais ordens de venda de um pequeno grupo de ações, que somavam bilhões de dólares, não paravam de chegar.
A dúvida que pairava no ar era: quem era o misterioso vendedor?
Logo, um nome veio à tona: era a Archegos Capital, o family office do bilionário Bill Hwang.
Tiger Cub
Bill Hwang, um imigrante sul-coreano que se mudou para os Estados Unidos em 1982, construiu sua carreira do zero em Wall Street.
Após se formar na universidade, começou trabalhando na área de sales and trading da Hyundai Securities.

Seu talento como vendedor de ações chamou atenção de uma lenda do mercado, que logo o convidou para trabalhar ao seu lado.
Essa lenda se chamava Julian Robertson, o bilionário fundador da Tiger Management e um dos investidores mais respeitados de todos os tempos.
Quando se aposentou, no ano de 2000, Robertson ficou conhecido por ter investido nos fundos de diversos ex-funcionários, que ficaram conhecidos no mercado como “Tiger Cubs” (filhotes de tigre).

Um deles era Bill Hwang, que fundou seu próprio fundo em 2001, o Tiger Asia, e no seu auge chegou a gerir mais de US$ 10 bilhões. Até surgir o primeiro problema…
Em 2012, o Tiger Asia foi liquidado após Hwang se declarar culpado pelo uso de informações privilegiadas na negociação de ações de bancos chineses.
Dessa forma, impedido de administrar recursos de terceiros, ele fundou um family office para administrar seu próprio capital no ano seguinte.
A Archegos Capital.
Focado no setor de tecnologia, Hwang surfou como poucos a valorização das ações das Big Techs americanas.
Google, Amazon, Netflix, Facebook. Todas estavam no seu portfólio.
Entre 2013 e 2021, Bill Hwang transformou US$ 200 milhões em US$ 20 bilhões operando altamente alavancado no mercado de ações.
Até que, no dia 22 de março de 2021, a Archegos Capital teve uma surpresa desagradável.
Margin Call

A ViacomCBS, sua maior posição na carteira, anunciou uma emissão de ações de US$ 3 bilhões e o mercado reagiu muito mal.
No dia seguinte, uma terça-feira, as ações da empresa despencaram quase 10%. Na quarta-feira, mais uma queda violenta: 23%
Com a queda abrupta da ação, logo vieram as chamadas de margem — uma solicitação para que o investidor deposite uma garantia na sua conta para cobrir seu empréstimo.
Com isso, os bancos (alguns dos maiores de Wall Street) solicitaram que Hwang vendesse outras ações do portfólio para conseguir cobrir a chamada. Ele recusou.
Como as ações continuaram caindo, os bancos não tiveram outra alternativa a não ser liquidar o portfólio de Hwang e realizar o prejuízo.
Através de estruturas complexas de derivativos, mesmo com um patrimônio de US$ 20 bilhões, a Archegos Capital chegou a operar cerca de US$ 100 bilhões devido à alavancagem (dinheiro emprestado).
Com a venda forçada do portfólio da Archegos, além do patrimônio de Bill Hwang cair de US$ 20 bilhões para ZERO em dois dias, os bancos envolvidos na operações tiveram um prejuízo de US$ 10 bilhões.
Só o banco Credit Suisse teve uma perda de US$ 5,5 bilhões.
Em abril de 2022, Bill Hwang foi preso e acusado de fraude pelas autoridades americanas.
Segundo a SEC, a Archegos realizou uma série de operações arriscadas “sem qualquer propósito econômico a não ser elevar artificialmente o preço das ações…”
Além do Credit Suisse, bancos como Goldman Sachs, Nomura, UBS e Morgan Stanley também tiveram bilhões de dólares de prejuízo.