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Daniel Dantas: o banqueiro mais polêmico do Brasil

De gênio das finanças com pós-doutorado no MIT à prisão pela Polícia Federal, conheça a história de Daniel Dantas.

Daniel Dantas é sem dúvida alguma um dos personagens mais controversos do mercado financeiro brasileiro.

Através do seu grupo, o Opportunity, que possui R$ 58 bilhões sob gestão, ele controla empresas no setor de petróleo, mineração, biocombustível e agronegócio.

Além disso, é considerado um dos maiores proprietários de terras agrícolas do país, através da sua empresa AgroSB, antiga Fazenda Santa Barbara, que já chegou a ter mais de 400 mil hectares e 1 milhão de cabeças de gado.

Com reputação de gênio das finanças, Daniel Dantas possui mestrado e doutorado em economia pela FGV e pós-doutorado no MIT.

Antes de fundar o seu próprio banco em 1994, Dantas foi sócio do lendário empresário Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, no Banco Icatu. Mas sua fama mesmo foi feita durante o período das privatizações no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Com aliados poderosos como o Citibank e os maiores fundos de pensão do país, Dantas comprou participações na Vale do Rio Doce, Cemig, Metrô Rio, no Porto de Santos e na Brasil Telecom. Inclusive, nessa última empresa, a Brasil Telecom, Dantas travou uma batalha contra seus sócios que ficou conhecida como a maior disputa societária da história do Brasil.

Mas além da briga com os sócios, Daniel Dantas também ficou conhecido por diversos escândalos envolvendo a Polícia Federal, quando chegou a ser preso acusado de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e ligações com o mensalão.

Gênio das Finanças

Nascido em 1954 em Salvador na Bahia, Daniel Valente Dantas teve uma infância tranquila.

Seu pai, Raimundo Dantas, era um empresário do setor têxtil e amigo de infância do senador Antônio Carlos Magalhães, o que garantiu a ele boas relações na política baiana. Em Salvador, Daniel Dantas começou a empreender cedo.

Com 17 anos, abriu uma fábrica de sacolas com mais dois amigos. Dois anos depois, vendeu o negócio com lucro e partiu para a próxima empreitada, uma distribuidora de cerveja.

Depois disso, se formou em Engenharia Civil na Universidade Federal da Bahia e durante um tempo trabalhou na construtora Odebrecht. Aos 24 anos, em 1979, Dantas se mudou para o Rio de Janeiro para cursar um mestrado em Economia na Fundação Getúlio Vargas.

Congresso de Economia

Em apenas 2 anos, concluiu o mestrado e doutorado e ficou conhecido pela sua proximidade com o Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda do governo Geisel e que era seu professor na FGV.

Sua dedicação à vida acadêmica era tanta que chegou a adiar seu casamento em 1980 para participar de um congresso de economia promovido pela Fundação. No congresso, conheceu o Prêmio Nobel de Economia Franco Modigliani, que lhe indicou para fazer um pós-doutorado no MIT, em Boston.

Com mestrado e doutorado pela FGV e pós-doutorado pelo MIT, logo que retornou ao Brasil, Dantas foi indicado por Simonsen para trabalhar para o lendário Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, dono da seguradora Atlântica Boavista, que havia sido adquirida pelo Bradesco.

Em 1986, quando Braguinha fundou o Banco Icatu, convidou Dantas para ser sócio, ao lado de seus filhos, Kati e Luis Antônio Almeida Braga. No Icatu, reforçou ainda mais sua imagem de gênio das finanças.

Uma das suas grandes tacadas foi investir em mercadorias como café, laranja e cacau pouco antes da edição do Plano Collor, que confiscou todos os ativos financeiros em março de 1990.

Enquanto a maioria dos investidores tiveram seus ativos confiscados, o Icatu exportou as mercadorias que havia estocado e conseguiu atravessar a crise de liquidez.

O timing preciso da operação, porém, gerou suspeitas e logo boatos de que Dantas tinha informação privilegiada começaram a surgir no mercado, mas nada foi provado.

Nos anos seguintes, o Icatu continuou crescendo rapidamente. Para você ter uma ideia, entre 1992 e 1993, o banco mais que dobrou os seus ativos totais, passando de 450 milhões de doláres para 1,1 bilhão de doláres.

Em pouco tempo, a tesouraria do Banco Icatu ficou conhecida como uma das mais vencedoras do mercado brasileiro. Outro acerto de Dantas, que era o presidente do Icatu na época, foi comprar ações do setor elétrico e de telecomunicações em 93, antecipando o movimento de privatizações que aconteceria nos anos seguintes.

Seu racional para operação foi simples e objetivo: bastava olhar para o que estava acontecendo em diversos países, onde muitas empresas estatais estavam sendo privatizadas.

Sendo assim, com uma carteira recheada de ações de estatais, o Icatu teve ganhos extraordinários e, inclusive, um de seus fundos foi eleito o melhor fundo de ações do mundo em 1993.

Contudo, mesmo com os resultados extraordinários, um desentendimento sobre a sua participação acionária do Banco Icatu fez com que Dantas deixasse a sociedade. Com os 70 milhões de dólares que recebeu pelas suas ações do Icatu, Dantas fundou o seu próprio banco.

Dessa forma, em 1994, Dantas criou o Banco Opportunity junto com a sua irmã, Verônica Dantas, e o lendário investidor Dório Ferman, que segue como seu sócio até hoje. Localizado no centro do Rio de Janeiro, em menos de um ano o Opportunity foi de 6 para 90 pessoas.

Enquanto Daniel se encarregava das principais decisões do grupo, sua irmã ficou responsável por toda a administração do banco, e Dório Ferman pela gestão dos fundos de investimentos.

Assim como no Icatu, Dantas continuou apostando forte nas privatizações, e então, se preparou para aproveitar as oportunidades que estavam prestes a surgir nos anos seguintes…

As privatizações

No Brasil dos anos 90, a economia estava em um ponto crucial. O país enfrentava desafios econômicos significativos, e o presidente Fernando Henrique Cardoso, eleito em 1994, buscava soluções para estabilizar a situação. Com o Plano Real, FHC trouxe estabilidade à economia, mas a necessidade de reformas estruturais ainda persistia. 

O governo acreditava que as privatizações eram uma chave para modernizar setores estatais e atrair investimentos. Além disso, dada a frágil situação das contas públicas na época, o governo não teria condições de realizar os investimentos necessários em setores chave da economia. Sabendo disso, Dantas começou a se mexer.

Pérsio Arida ao centro

Em 1996, Dantas convidou Pérsio Arida para se tornar sócio do Opportunity. Economista renomado, Pérsio foi um dos principais personagens na elaboração e implementação do Plano Real. Além disso, ele foi o presidente do Banco Central durante o governo do FHC e também era casado com a economista Elena Landau, uma das principais responsáveis por coordenar o Programa Nacional de Desestatização no governo de FHC.

Com contatos importantes dentro do governo, o próximo passo de Dantas foi se aliar com os principais fundos de pensão do Brasil, o Previ, o Petros e a Funcef. Agora, Dantas tinha um time de peso e muito capital à sua disposição, mas ainda faltava a última peça do quebra-cabeça: um aliado internacional.

Dessa forma, o banqueiro acionou mais uma vez sua valiosa rede de contatos e conseguiu atrair em 1997 o Citibank, para ser seu sócio no Brasil para participar das privatizações.

Vale lembrar que nessa época o Citibank era a maior instituição financeira do mundo. Com tudo pronto, o Opportunity estabeleceu 3 fundos de investimento: um fundo no Brasil que receberia o capital dos fundos de pensão, um fundo nas Ilhas Cayman, que receberia o dinheiro do Citibank e um fundo que receberia o capital próprio do Opportunity, também no Caribe.

Sem perder tempo, já em 1997 participou dos consórcios vencedores na privatização da Vale do Rio Doce, do Porto de Santos e do Metrô do Rio de Janeiro. Além disso, quando o Estado de Minas Gerais decidiu vender 33% do capital com direito a voto da Cemig para iniciativa privada, o consórcio de Dantas também foi o vencedor. Mas esse era só o começo. A joia da coroa das privatizações viria apenas no ano seguinte, em 1998.

No dia 29 de julho de 1998, na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, foi realizado o leilão de privatização do Sistema Telebras. No total, o governo brasileiro arrecadou mais de 22 bilhões de reais, o que representou um ágio de 63,7% de ágio sobre os valores mínimos do leilão. Dessa forma, a Telebras foi desmembrada em 12 empresas, sendo 4 de telefonia fixa e 8 de telefonia móvel.

O consórcio de Daniel Dantas, formado pelo Opportunity, o Citibank, os fundos de pensão e a Telecom Itália, desembolsou cerca de 2 bilhões  pela controle da Tele Centro Sul, que mais tarde foi rebatizada de Brasil Telecom e operava em 9 estados do centro sul do país e mais o distrito federal.

A Telesp, que atualmente é a Vivo, era a empresa mais valiosa do leilão e foi arrematada por 5,7 bilhões de reais pelo consórcio formado pela Telefónica, da Espanha, Portugal Telecom e Iberdrola, que superou a proposta do consórcio formado pela Globo, Bradesco e Telecom Itália.

Já a Telemar, que virou a Oi, foi arrematada pelo grupo da família Jereissati, a construtora Andrade Gutierrez, a Inepar, entre outros nomes.

Por fim, a Embratel foi arrematada pela americana MCI International, que em 2002 entrou em concordata nos Estados Unidos e precisou vender a empresa brasileira para a Telmex, do bilionário mexicano Carlos Slim.

Além da Tele Centro Sul, Dantas também adquiriu juntamente com a canadense TIW, o controle das operadoras de telefonia móvel Telemig e Amazônia Celular.

Mas, como você bem pode imaginar, dado as cifras bilionárias e os players de peso participando dos leilões, a privatização da Telebras foi cercada de polêmicas.

Uma delas ficou conhecida como o escândalo dos grampos, em que escutas ilegais apontaram que o ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros e o presidente do BNDES, André Lara Resende, teriam beneficiado o consórcio de Dantas na privatização.

O escândalo resultou na queda de Lara Resende e de Mendonça de Barros, além de abalar o governo de FHC. Mas esse era só o início da confusão.

Dantas e a Maior Disputa Societária do Brasil

Nos anos seguintes às privatizações, o banqueiro Daniel Dantas conseguiu a façanha de brigar com absolutamente todos os seus sócios. Ele brigou com os canadenses da TIW, os argentinos da Cometrans, seus sócios no Metrô do Rio, os italianos da Telecom Itália, os americanos do Citibank e os maiores fundos de pensão do Brasil, o Previ, o Petros e a Funcef. Não sobrou nenhum aliado.

Para não deixar esse artigo tão longo, vamos focar na maior briga de todas, que foi chamada pela mídia na época de maior disputa societária da história do Brasil. A briga pelo controle da Brasil Telecom.

Os problemas começaram já em 1999, apenas um ano depois da privatização da empresa. A diretoria do Previ foi renovada e entre os novos diretores, estava Sérgio Rosa, um dos representantes dos sindicatos dos bancários ligados ao PT.

Assim que assumiu, Sérgio iniciou uma auditoria nos contratos com o Opportunity e constatou que eles eram extremamente desvantajosos aos fundos de pensão. Isso porque, Dantas, através de uma complexa engenharia financeira, mesmo investindo muito menos do que os demais sócios do consórcio, tinha totais poderes sobre a gestão da Brasil Telecom.

Quando os dirigentes dos fundos tentaram renegociar os contratos, Dantas não aceitou. Segundo ele: “se os que fizeram os acordos não leram as cláusulas antes de assinar, a culpa não é nossa”. Em fevereiro de 2000, mais uma briga, dessa vez com os italianos da Telecom Italia, que na época era controlada pela Pirelli, a famosa fabricante de pneus italiana.

Por questões regulatórias, a Brasil Telecom foi obrigada a comprar a Companhia Riograndense de Telecomunicações, a CRT, que pertencia à Telefónica.

A confusão começou porque Dantas não queria pagar mais do que US$ 730 milhões pela CRT, enquanto a Telecom Italia queria desembolsar US$ 850 milhões no negócio. Segundo Dantas, claramente alguém estaria sendo beneficiado. Depois de muita discussão, o negócio foi fechado por US$ 800 milhões. Mas calma que tem mais.

Outra briga com a Telecom Italia foi por conta da operação de telefonia celular e internet. Os italianos queriam antecipar as metas de investimento estabelecidas pela Anatel para poder operar com telefonia celular e internet.

Dantas não concordou e atrasou os investimentos, irritando ainda mais seus sócios italianos que logo entraram na justiça para questionar o poder do banqueiro nas decisões da Brasil Telecom.

Em 2002, por questões regulatórias, a Telecom Italia se afastou da Brasil Telecom para lançar no Brasil a TIM (Telecom Italia Mobile) com a possibilidade de voltar. O que eles não esperavam é que pouco tempo depois, a Brasil Telecom comprou licenças de celular. 

Com isso, TIM e Brasil Telecom estariam em áreas sobrepostas, o que era proibido. Em 2003, quando a Telecom Italia tentou voltar, foi impedida pelo Opportunity.  Com isso, os fundos de pensão se aliaram à Telecom Italia, e conseguiram destituir o Opportunity da gestão do fundo que administrava a Brasil Telecom. 

Mas embora tenha perdido o controle do fundo com os sócios brasileiros e italianos, Dantas continuava controlando a empresa através do fundo em sociedade com o Citibank, que ainda era seu aliado.

Além disso, Dantas também havia comprado a participação no bloco de controle da Telemar, devido aos problemas financeiros da Inepar, que não conseguiria arcar com a sua parte do pagamento da parcela da privatização.

Como se não bastasse todas as polêmicas, em 2004 a Brasil Telecom, sob a gestão do Opportunity, foi acusada de contratar uma empresa para espionar autoridades brasileiras e a Telecom Italia, numa operação da Polícia Federal chamada de Operação Chacal. Em 2012 ele foi inocentado da acusação.

O clima entre os sócios do consórcio dono da Brasil Telecom só piorava, e em 2005, foi a vez do Citibank abandonar Daniel Dantas. Depois de muita briga, Dantas concordou em vender sua parte no bloco de controle da Brasil Telecom para a Telecom Italia por cerca de R$ 1,2 bilhão, além de concordar em desistir de todos os litígios judiciais contra a empresa italiana. Mas mesmo sem controlar a empresa, o Opportunity continuou a ter ações da Brasil Telecom.

Com a reeleição do presidente Lula em 2006, a ideia de criar uma super tele nacional começou a ser discutida, e a fusão entre a Brasil Telecom e Telemar começou a ganhar força.

Como Dantas tinha participação nas duas empresas, ele foi peça fundamental no processo. Em 2008, após muita negociação, Daniel Dantas aceitou vender sua participação tanto na Brasil Telecom quanto na Telemar para a criação de uma gigante nacional, a Oi. No total, a Oi pagou mais de R$ 5,8 bilhões pela Brasil Telecom.

É estimado que Dantas tenha ganhado mais de 2 bilhões de reais na operação. Foi nesse ano também que Daniel Dantas teve mais um revés com a justiça, dessa vez com a Operação Satiagraha, que acusava o banqueiro de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e formação de quadrilha e envolvimento com o escândalo do mensalão.

Além disso, também foi acusado de subornar um delegado da polícia federal. Mais de 4,5 bilhões de reais foram confiscados dos fundos do Opportunity e 25 fazendas de Dantas foram sequestradas pela justiça. Dantas, que chegou a ser preso pela polícia federal, foi solto no dia seguinte pelo ministro Gilmar Mendes.

Em 2011, a Operação Satiagraha foi anulada pelo STJ e o delegado responsável pela operação, Protógenes Queiroz foi expulso da Polícia Federal e condenado a 2 anos e 6 meses de prisão. Segundo a justiça, as provas foram obtidas de forma ilegal e além disso, Protógenes vazou informações da operação para a mídia. Depois desse episódio, Dantas ficar longe dos holofotes por um bom tempo…

Longe dos Holofotes

De lá pra cá, Dantas ainda se envolveria em mais outras brigas, mas sem a mesma atenção da mídia quanto no caso da Brasil Telecom.

Em 2010,  começou a disputa pelo controle da Santos Brasil com o seu sócio, a Multiterminais, da família Klien.

Dois anos depois, Dantas entrou novamente na justiça contra a Telecom Italia, e pediu uma indenização de 15 bilhões de dólares. Em 2016 Dantas foi derrotado no tribunal.

Em 2017, Dantas reabriu o processo contra o Citibank, alegando que foi coagido a assinar o acordo de venda das suas ações. Novamente perdeu na justiça.

Depois de tantas derrotas nos tribunais, em 2018 o Opportunity teve uma vitória importante contra seus sócios na Vale, a Bradespar e a Litel, que tiveram que pagar uma indenização de R$ 2,8 bilhões a Dantas depois de mais de 10 anos de processo.

Atualmente, o Opportunity é uma das maiores gestoras de recursos independentes do Brasil, com mais de R$ 58 bilhões sob gestão, sendo R$ 11 bilhões somente em private equity. Entre as empresas controladas ou com participação relevante do Opportunity estão a PetroReconcavo, no setor de petróleo, a mineradora Bemisa, a AgroSB, do setor de agronegócio, a CVC, no setor de turismo e mais diversas outras companhias.

Excêntrico, Daniel Dantas segue sua rotina obsessiva pelo trabalho. Não tira férias, não vai a praia e mal sai da sua cobertura em Ipanema, que comprou em um leilão judicial.

No auge das disputas judiciais, chegava a passar 80% do tempo falando com advogados, que custavam a ele cerca de 500 mil reais por mês, de acordo com pessoas próximas. Além disso, para evitar que adversários registrassem suas palavras, chegou a fazer reuniões nas nuvens. 

O jato particular decolava do aeroporto Santos Dumont e não ia a lugar nenhum. Dava voltas sobre o Rio, às vezes por mais de uma hora, para que executivos do Opportunity pudessem conversar livres de grampo.

Além disso, Dantas mandou instalar um sistema de som no forro do teto do banco, para dificultar a gravação do que era dito entre ele e seus executivos. Uma história digna de um filme.

Se quiser assistir esse documentário no nosso canal do YouTube, segue o link:

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