Naji Nahas: o homem que quebrou a bolsa do Rio de Janeiro

Conheça a história de um dos investidores mais polêmicos do Brasil

Você já imaginou ter tanto dinheiro a ponto de ser dono de 7% das ações da Petrobras? E 12% das ações da Vale do Rio Doce?

Por mais difícil que seja acreditar, esse era o poder de fogo de um dos maiores especuladores do Brasil durante a década de 80. Seu nome é Naji Nahas.

Uma das figuras mais polêmicas do mercado financeiro, Nahas construiu um império no Brasil nos anos 70 e 80.

Através do seu grupo, o Selecta, chegou a controlar mais de 27 empresas e ser considerado um dos homens mais ricos do país…

Até que as coisas começaram a dar errado…

Naji Nahas

Nascido em 1947 no Líbano e criado no Egito, Naji Robert Nahas teve uma infância abastada, crescendo em uma mansão luxuosa de 10 mil metros quadrados.

Dono de uma fábrica de tecidos que chegou a empregar mais de 6 mil funcionários no Egito, seu pai era um importante empresário que fez fortuna no durante o governo do Rei Faruque nos anos 40.

Com os vastos recursos de sua família, Nahas teve acesso a uma educação privilegiada, estudando economia e negócios na Universidade de Beirute e na Universidade de Oxford, na Inglaterra.

Alguns anos depois, durante uma reunião de família, Nahas conheceu a brasileira Sueli Aun, com quem se casou em 1967, em sua primeira visita ao Brasil, que durou 15 dias.

Sua vinda definitiva para o Brasil aconteceu em dezembro de 1969, num voo da Varig que foi sequestrado e teve sua rota desviada para Cuba.

Por ser o único passageiro a falar árabe e inglês, Nahas foi o responsável pela negociação com os sequestradores.

O sequestro foi amplamente noticiado pela mídia na época.

Matéria da Folha de São Paulo.

Ao desembarcar no Brasil, Nahas não chegou de mãos abanando. Com ele, estava sua herança de US$ 50 milhões.

Em apenas 12 anos, transformou esse dinheiro em um conglomerado de 27 empresas, com atuação nos mais diversos setores, do agronegócio às finanças.

Sua holding, que se chamava Grupo Selecta, controlava um banco, uma seguradora, fazendas de criação de coelhos, e outros diversos tipos de negócios, tornando Nahas um dos homens mais ricos do país na década de 80, com uma fortuna avaliada em US$ 300 milhões.

Ao longo desses anos construindo seu império, porém, episódios controversos não faltaram ao empresário.

Polêmicas

Um dos mais conhecidos foi a sua ligação com os irmãos Hunt, os bilionários texanos que tentaram comprar toda a prata do mundo em 1980.

Julgamento dos irmãos Hunt

Mesmo sendo uma das famílias mais ricas do mundo naquela época, os Hunt precisavam de mais capital para controlar o mercado mundial da prata.

Como conhecia os americanos e também possuía conexões poderosas no Oriente Médio, Nahas fez a ponte entre os investidores, que juntaram forças e começaram a comprar quantidades enormes da matéria-prima.

No total, o valor da onça subiu de US$ 1,95 em 1973 para US$ 54 em 1980, gerando um lucro astronômico para eles.

Foi quando os reguladores americanos começaram a desconfiar que os preços estavam sendo manipulados, e novas regras foram contra operações alavancadas foram criadas.

Com as restrições, os Hunt começaram a ter sérios problemas para financiar suas transações, e quando uma chamada de margem de US$ 100 milhões não foi cumprida, o mercado entrou em pânico e os preços da prata desabaram.

Nahas foi acusado pelas autoridades de ter participado do esquema, porém, em 1985 foi considerado inocente pela Justiça Americana.

No Brasil, Nahas também se envolveu em confusão.

Em 1986, o banco francês Societé Générale, que era seu sócio no banco brasileiro SOGERAL, acusou o empresário de ter gerado um prejuízo de mais de US$ 110 milhões à instituição, forçando a vender suas ações pouco tempo depois.

Mercado Financeiro

Além dos seus negócios da economia real, Nahas também investia pesado no mercado financeiro.

Durante muitos anos, reinou como o maior investidor da bolsa brasileira, realizando grandes operações com algumas das principais ações do Brasil e utilizando altos níveis de alavancagem.

No seu auge, ele chegou a ser dono de 7% das ações da Petrobras e de 12% das ações da mineradora Vale do Rio Doce.

Segundo uma lenda de mercado, suas ordens de compra eram tão grandes, que ele solicitava aos operadores que ficassem comprando ações por um determinado tempo.

Por exemplo: “compre 30 minutos de ações da Petrobras, por favor.”

Para se ter uma ideia do poder de Nahas, em apenas uma transação realizada em 1988 na BVRJ, ele movimentou mais de 10 milhões de ações da Petrobras, representando cerca de 60% do volume negociado no dia.

Devido à quantidade e ao tamanho de suas operações, logo o megaespeculador se tornou o maior gerador de corretagens da bolsa do Rio de Janeiro.

Para turbinar ainda mais seus ganhos, ele também operava pesado no mercado de opções, fazendo apostas agressivas na alta dos preços das ações.

Com a BVRJ subindo mais de 2500% em 1988, Nahas fez uma verdadeira fortuna especulando no mercado financeiro…

Porém, sua sorte estava prestes a virar…

A quebra

Com operações altamente alavancadas, que dependiam do financiamento de bancos e corretoras, logo começaram surgir suspeitas de que Nahas pudesse estar inflando artificialmente o preço das ações.

Essas transações, que eram conhecidas no mercado como D5, funcionavam da seguinte maneira:

Nahas comprava as ações à vista, porém, seu pagamento era realizado apenas 5 dias depois.

Quando chegava o dia de pagar pelas ações, ele pagava com dinheiro emprestado.

Como tinha um ótimo relacionamento com as instituições financeiras, acesso a linhas de crédito não era um problema, e então ele foi repetindo o processo e comprando cada vez mais ações.

Nessa época , ele operava tanto na Bovespa quanto na Bolsa do Rio de Janeiro, e o então presidente da Bolsa de São Paulo, Eduardo da Rocha de Azevedo, desconfiado das jogadas de Nahas, solicitou aos bancos e corretoras que cortassem o seu financiamento.

Sem crédito para rolar suas dívidas, o megaespeculador começou a ter sérios problemas.

No dia 09 de junho de 1989, a bolha estourou. 

Um cheque emitido pela empresa Selecta Comércio e Indústria, pertencente a Nahas, no valor de 39 milhões de cruzados novos foi devolvido por falta de fundos.

A notícia de que o maior investidor da bolsa estava sem dinheiro para honrar suas dívidas se espalhou rapidamente pelo mercado, derrubando tanto a bolsa do Rio de Janeiro quanto a de São Paulo.

No total, as ações chegaram a perder um terço do seu valor.

Logo, mais cheques sem fundos começaram a aparecer, causando ainda mais pânico no mercado.

Nahas havia gerado um rombo para os bancos, corretoras e para a própria bolsa.

Com o colapso, cerca de 5 corretoras decretaram falência e a BVRJ não conseguiu se recuperar do golpe nos anos seguintes, encerrando suas operações em 2000.

A Bovespa, por outro lado, para compensar seu prejuízo, conseguiu confiscar a carteira de ações de Nahas, que estava avaliada em US$ 500 milhões.

O especulador foi indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de colarinho branco e estelionato.

Além disso,  também foi acusado pela CVM por utilizar “laranjas” para manipular o preço das ações e teve que cumprir um ano de prisão domiciliar.

Em outubro de 1997, Naji Nahas foi condenado pela justiça federal a 24 anos e 8 meses de prisão por crimes contra a economia popular e o sistema financeiro, porém, recorreu em liberdade.

Notícia sobre a condenação de Naji Nahas

Após o fatídico episódio da quebra da bolsa do rio, Nahas ainda se envolveria em mais polêmicas nos anos seguintes.

Inocentado pela justiça em 2007, Nahas entrou com uma ação judicial contra a Bovespa pedindo uma indenização de R$ 10 bilhões por danos materiais.

O pedido foi julgado improcedente e o processo foi encerrado em 2014.

Em 2008, ele foi preso pela Polícia Federal na Operação Satiagraha, junto com o banqueiro Daniel Dantas, após acusação de um esquema de lavagem de dinheiro.

Mais uma vez, Nahas foi inocentado pela justiça.

Poucos anos depois, Nahas estava novamente nos noticiários devido a desocupação de Pinheirinho, um terreno seu de 1,3 milhão de metros quadrados em São José dos Campos que abrigava centenas de famílias de baixa renda.

Sua polêmica mais recente foi em novembro de 2021, quando a Justiça de São Paulo decidiu despejar Naji Nahas de sua mansão no Jardins, um dos bairros mais nobres da capital paulista.

Segundo o processo, o imóvel, que é avaliado em R$ 50 milhões, não pertence mais a Nahas devido a um complexo acordo que ele fez com um credor na década de 90.

Além disso, o empresário deve cerca de R$ 5 milhões em IPTU.

Ele está recorrendo na justiça e até o momento conseguiu evitar o despejo.

Será que ele vai ganhar mais uma causa?

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